MAREGA SAI DE CAMPO FARTO DE INSULTOS RACISTAS

O maliano Moussa Marega, avançado do FC Porto, saiu de campo aos 70 minutos de jogo, farto de ouvir insultos e cânticos racistas provenientes de sectores da bancada do Estádio D. Afonso Henriques onde estavam adeptos do Vitória de Guimarães, sobretudo afectos à claque ‘White Angels’. A imitação do som produzido pelos macacos, que se ouviu desde o aquecimento dos jogadores portistas antes do desafio da 21ª jornada da Liga começar, só terminou quando o autor do segundo golo dos dragões – e que deu a vitória ao conjunto azul e branco – decidiu recolher aos balneários, onde permaneceu até à partida do autocarro do clube rumo à Cidade Invicta. Depois do presidente da mesa da Assembleia Geral do clube minhoto ter culpado Marega daquilo que se passou (!), a direcção do Vitória emitiu um comunicado a demarcar-se daquele palavreado e a prometer um “inquérito rigoroso” ao indecente comportamento de vários dos seus adeptos e a “agir em conformidade” mediante as conclusões a que chegar. Vários companheiros de equipa e atletas do Vit. Guimarães tentaram demover o jogador, originário do Mali, a mudar de ideias, mas este manteve-se inabalável. Um parêntesis para aplaudirmos e nos solidarizarmos com a atitude de Marega e lamentarmos que o árbitro Luís Godinho não tivesse interrompido o jogo mais cedo e mandado anunciar pelos microfones do estádio que, ou acabavam os cânticos e os insultos racistas, ou o desafio terminava naquela altura. E os outros jogadores que estavam dentro do campo deviam ter ‘aberto alas’ para Marega sair por aí e aplaudir a sua decisão, porque no domingo foi ele o alvo de atitudes racistas e xenófobas, amanhã poderá ser qualquer outro atleta só porque a cor da sua pele não é branca. E pelo andar da carruagem, voltaremos ao tempo das SS e dos seguidores de Adolf Hitler (fecha parêntesis). A direcção do Sporting criticou “estes comportamentos” e colocou-se “ao lado de Marega”, o FC Porto falou, no seu comunicado, de “crime e insultos reiterados ao atleta durante o encontro de Guimarães”. Também a FPF e a Liga de Clubes Profissionais condenaram os “actos racistas” que se viveram no estádio. O primeiro-ministro, António Costa, afirmou que “o desporto não pode ser palco de violência, nem de valores que violem a dignidade humana”. Quanto ao Benfica, colocou um vídeo nas redes sociais onde alguns atletas, entre os quais Floriano, convidam as pessoas a “mostrar o cartão vermelho ao racismo”. Entretanto, Luís Godinho diz que “só se apercebeu dos insultos racistas quando Marega saiu de campo” e que antes avisou o delegado da Liga e o do V. Guimarães que “se os insultos não terminassem ele interrompia o jogo”. Porém, o árbitro não se livrou da ira de Marega: “Você é uma vergonha.” A imprensa internacional, sobretudo a europeia, dá grande destaque ao que aconteceu no Estádio D. Afonso Henriques em Portugal: “Uma vergonha”, titula o diário madrileno ‘A Marca’. O internacional português Ricardo Quaresma, de origem cigana, recorda que “também já fui várias vezes vítima de racismo dentro e fora de campo” e que aquilo que se passou com Marega “é um crime que deve ser punido”. Relembre-se, ainda, que na altura do segundo golo dos portistas foram arremessadas muitas cadeiras para o relvado, com Marega a brincar com a situação colocando uma sobre a cabeça, o que deve ter exaltado mais alguns apaniguados vimaranenses. Anote-se que, segundo o regulamento da Liga (artigo 113º) o Estádio D. Afonso Henriques pode ser interditado entre um a três jogos. No tocante à PSP, o comportamento dos adeptos suspeitos configura “um crime previsto e punido no Código Penal com penas de prisão de seis meses a 5 anos”. Em suma: espera-se mão firme da Liga Profissional e que os adeptos que sejam referenciados sejam, no mínimo, obrigados a apresentarem-se na esquadra mais próxima da sua residência nos dias em que o Vitória jogue e proibidos de frequentarem recintos desportivos. A exemplo do que se passou noutros países, como a Inglaterra, por exemplo.

– A. de C.

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Director do jornal O Sesimbrense