Sofia Mendes

Sofia Mendes é uma veterana da rádio sesimbrense, onde começou a trabalhar no início da década de 90.
Como ela própria refere, na rádio já fez de tudo, num desempenho bastante polivalente: programas de manhã, à tarde e à noite, reportagens e entrevistas, noticiários/informação, programas políticos, debates e programas de autor, chegando mesmo a fazer parte da equipa de desporto.
Nesta entrevista aborda os desafios da rádio no nosso tempo e revela-nos que o ano de 2023 vai trazer muitas novidades na programação da Sesimbra FM: “Vamos ter mais vozes, mais conteúdos e mais rubricas”.

Como se chama e que idade tem?
Chamo-me Sofia Mendes e tenho 47 anos.

Como aconteceu começar a trabalhar na rádio?
Comecei a trabalhar na rádio no início dos anos 90. O primeiro contacto aconteceu quando a minha professora de Jornalismo, do 11º ano, conseguiu um espaço na programação da Rádio Santiago para as turmas de Jornalismo realizarem um programa. Chamava-se “Louca Juventude” e, como o nome indica, estava relacionado com os problemas que os jovens enfrentavam na altura e com a própria escola.
Com o final das aulas, o programa terminou e, pouco tempo depois, fui convidada para integrar a equipa que realizava o “Dedicadamente”, um programa que durou muitos anos e que, na altura, teve bastante sucesso.
Pouco tempo depois, para além do “Dedicadamente”, que acontecia todas as segundas, quartas e sextas-feiras, entre as 23h e as 24h, realizei também, em conjunto com a minha colega Sónia Faria, o espaço “Onda Selvagem”, aos sábados à tarde. Este foi apenas o início, pois com o passar dos anos fui fazendo muitas outras coisas no mundo da rádio.

Trabalhou também noutros meios de comunicação? 
Além da rádio, colaborei também com o Jornal de Sesimbra.

E há quantos anos trabalha na rádio? É uma profissão a tempo inteiro?
Trabalho na rádio há cerca de 33 anos e sim, já há muito tempo que é uma profissão a tempo inteiro. Sou radialista de corpo e alma, esta é a minha paixão e onde me sinto confortável. Não foi algo que na juventude tivesse pensado fazer. Surgiu a oportunidade, aproveitei, experimentei e fiquei. É aquela velha máxima do “bichinho da rádio” – entra e já não sai.

Sabemos que tem feito trabalhos de diferente natureza – noticiário, entrevistas, etc. – há alguma dessas áreas que a interesse mais do que as outras?
Posso dizer que, nos meus 33 anos de rádio, já fiz de tudo um pouco e tenho sido bastante polivalente. Programas de manhã, à tarde e à noite, reportagens e entrevistas, noticiários/informação, programas políticos, debates e programas de autor. Cheguei também a fazer parte da equipa de desporto, algo que me deu imenso prazer fazer.
No entanto, o que mais gosto de fazer são as entrevistas, sejam musicais ou outras, mas com uma preferência para as conversas musicais. A comunicação com os outros é algo que me fascina e com a qual aprendo diariamente, nomeadamente com o trabalho de pesquisa que faço antecipadamente e para cada entrevista. É um mundo muito interessante e que levo muito a sério, uma partilha de sentimentos, emoções e talento que faço questão de partilhar com todos os que me ouvem.

   Na Rádio Santiago – 1993

A música, e nomeadamente os projetos de produção musical, têm merecido a sua especial atenção – alguma razão especial para esse facto?
Sinceramente, foi algo que não foi propriamente pensado e que aconteceu naturalmente, mas é realmente o que mais gosto de fazer. Desde que assumi o horário fixo, entre as 15h e as 20h ( e já lá vão mais de 15 anos), tenho tentado sempre marcar pela diferença e, essa, passa muito pela divulgação de novos projectos musicais.
Com o passar dos anos, fui-me apercebendo do talento musical que existe no nosso País, e aqui falo de variadas sonoridades e estilos musicais que todos os dias me chegam e que, no meu entender, devem ter a sua oportunidade radiofónica. Essa é uma das minhas apostas, divulgar as bandas nacionais, mostrá-las ao mundo e dar-lhes voz. É isso que tenho feito e tem corrido muito bem.
Arrisco-me a dizer que essa é uma das “marcas” da Sesimbra FM: a promoção e divulgação das novas bandas e artistas nacionais. É o que sinto e é esse também o feedback que recebo de ouvintes, seguidores e das próprias bandas e artistas.

Pode referir alguns programas e/ou entrevistas que a marcaram especialmente, pela positiva?
A nível de programas, primeiro o “Louca Juventude”, porque foi o programa que me abriu as portas para o mundo da rádio, e depois o “Dedicadamente”, claro! Foi um dos programas mais populares da Rádio Santiago e com o qual passei momentos inesquecíveis e também hilariantes. Eram tempos completamente diferentes, a todos os níveis, e que nunca vou esquecer. Ainda hoje se fala no “Dedicadamente”, o que é fantástico e sinal que marcou mesmo a juventude da época.
A nível de entrevistas, é difícil escolher porque já fiz muitas, todas elas são especiais, merecem a minha atenção e me marcam de alguma forma. Mas talvez realce a entrevista com o actor brasileiro Paulo Betti que, creio que foi em 2017, veio a Sesimbra apresentar a sua peça de teatro “Autobiografia Autorizada”. Nunca na minha vida tinha sequer pensado que um dia iria entrevistar o Timóteo da novela brasileira “Tieta”. E esta é a prova que nada é impossível, tal como já aconteceu com vários actores e cantores portugueses bem conhecidos de todos nós.

Como avalia o futuro da rádio como meio de informação e comunicação?
Ao contrário do que muitos pensam, a rádio ainda é um dos meios de comunicação mais acessíveis que existem, mas, claro, que tem que estar atenta às mudanças no mercado para que possa evoluir e para que consiga cativar a audiência e manter a sua importância. A rádio ainda é a companhia de, por exemplo, quem vive isolado ou trabalha sozinho à noite, e continua a ser o meio de comunicação mais usado pelos portugueses.
A internet tornou possível ouvir rádio em todos os sítios e permitiu apresentar novos formatos e creio que o futuro da rádio continua a ser muito risonho, com novas formas de apresentar conteúdos e de captar audiências. Sendo ainda a companhia nos carros, estando disponível nos computadores e smartphones, a rádio passou a acompanhar-nos para todo o lado.
A questão da criação dos podcasts e das transmissões ao vivo nas redes sociais também tem crescido e acaba por captar ainda mais atenção para este mundo. Embora eu continue e achar que a mística da rádio é apenas o som e a voz, sem imagem, percebo que o futuro (e que já acontece em muitas rádios) tem mesmo que passar por aí.

Quais foram os seus momentos mais marcantes a nível profissional?
Foram muitos e sempre desafiantes. Até hoje posso dizer que nunca me neguei a nada. Quando me dizem que tenho que fazer isto ou aquilo, ou que tenho que entrevistar determinada pessoa, nunca digo que não ou que não consigo. Vou e faço, mesmo que esteja mais nervosa ou insegura. É sempre um desafio e uma aprendizagem.
Recordo uma reportagem que fizemos a bordo da lancha de fiscalização rápida NRP Dragão, da Marinha Portuguesa, em que acompanhei a jornalista Eloísa Silva, e que foi uma experiência muito marcante e emocionante. Marcantes foram também as coberturas no exterior do Carnaval de Sesimbra, nos tempos em que acompanhavamos os desfiles das escolas de samba e grupos de afro-axé, e alguns debates que moderei, nomeadamente políticos.

O que é para a Sofia “estar no ar”?
“Estar no ar” é estar com os ouvintes. É imaginar que, do outro lado, está sempre alguém atento ao que dizemos e transmitimos. É passar emoções, é alegrar, informar e também ensinar, porque a rádio também educa as pessoas, mediante aquilo que lhes passamos. “Estar no ar” é, no fundo, fazer companhia a alguém. É passar informação, seja ela qual for.

Tem a perceção que a rádio e a profissão de radialista, combatem por vezes, a solidão dos ouvintes, são uma companhia que os acompanha ao longo do dia e da noite e nas mais diversas atividades diárias. Que tipo de comentários chegam à rádio, por parte dos ouvintes da Sesimbra FM?
Aí está uma coisa que eu gostava que acontecesse mais vezes e que, infelizmente, se foi perdendo com o tempo – a interacção dos ouvintes com a Sesimbra FM. Isto porque com o surgimento das redes sociais e das plataformas digitais, esse contacto passou a ser maioritariamente digital, seja através de mensagens ou comentários às publicações.
De vez em quando ainda recebemos alguns contactos de ouvintes que nos estão a ouvir e que fazem questão de ligar a dar os parabéns, que gostaram de ouvir determinada entrevista ou programa, ou mesmo para pedir uma música e agradecer pela companhia. Mas é um facto que, na maioria das vezes, esse contacto chega através dos meios digitais.

   Na Sesimbra FM – 2002

Estão previstas novas rubricas para este ano?
Sim, o ano de 2023 vai trazer muitas novidades na programação da Sesimbra FM. Vamos ter mais vozes, mais conteúdos e mais rubricas. Iniciámos em Janeiro um novo programa às sextas-feiras, entre as 18h e as 20h, intitulado “Agora Falamos Nós”, mais descontraído e com mais conversa e convidados de várias áreas, mas brevemente vão surgir mais novidades radiofónicas.

O que é ser uma rádio local com uma presença mundial por via da internet?
É poder ser ouvida em todo o mundo graças à emissão online. É poder levar aos sesimbrenses espalhados pelo mundo as notícias e novidades da sua terra para que, mesmo distantes, se sintam mais perto de casa. É estar lado a lado com eles, apenas à distância de um click.

Quantas entrevistas fez ao longo do seu percurso profissional?
Não faço ideia, mas já foram algumas. Posso dizer que, nos últimos oito anos, tenho feito entre 150 a 200 entrevistas por ano.

Continua ligada ao associativismo?
Neste momento não.

Como o avalia no momento atual?
Todos nós sabemos que o associativismo é um mundo difícil, complexo e muito trabalhoso. É preciso dar muito de nós, gratuitamente, e a maioria das pessoas não estão disponíveis para o fazer. Estar no associativismo é estar com os outros, é ajudar o próximo, é passar cultura, desporto, solidariedade, entre outras coisas. É um trabalho muito digno e que requer muitas atenção.
O concelho de Sesimbra é muito fértil no que concerne ao associativismo, com muitas associações de variadas áreas e abrangências e acho que está a fazer um bom trabalho. Nalguns casos, tem aparecido gente nova e jovem para assumir esse papel e isso é de realçar.
Talvez o que falte é a população e, principalmente, os próprios associados, participarem mais activamente nas associações, embora já se vá notando alguma evolução nesse campo. Os anos de pandemia não foram fáceis para o associativismo, que ainda se está a reerguer, mas acredito que com vontade e trabalho seja possível continuar a fazer um bom trabalho em prol de toda a sociedade.

No período da pandemia como decorriam as emissões de rádio?
Durante a pandemia, as emissões da Sesimbra FM decorreram normalmente. A única diferença é que, como não podíamos receber ninguém em estúdio, tudo era feito via telefone. Tivemos, inclusive, uma altura em que abrimos a antena aos ouvintes e pedimos que partilhassem connosco as suas fragilidades relativamente à época conturbada que passámos. De resto, foi tudo normal, estivemos sempre a trabalhar.

Estão previstas reportagens/entrevistas no exterior dos vossos estúdios?
Não tantas como gostaria, mas pontualmente vou fazendo algumas. Espero que o ano de 2023 traga também novidades nesse campo.

Que balanço faz dos 33 anos como radialista/locutora?
Extremamente positivo. Apesar das dificuldades e das adversidades, a minha resiliência tem-me permitido continuar a fazer um trabalho honesto, genuíno, humilde e muito enriquecedor. Comecei por ser locutora nas horas vagas e já há muitos anos que sou radialista de corpo, alma e coração. Com o passar do tempo fui evoluindo, fui ganhando novas competências, capacidades e novas formas de trabalhar e encarar este maravilhoso mundo. Eu cresci com a rádio, a rádio cresceu comigo e, consequentemente, o “bichinho” também. Não me vejo a fazer outra coisa e vou continuar a lutar para que a Sesimbra FM consiga alcançar os seus objectivos. Para que continue a ser uma rádio isenta, eclética, com bons conteúdos, informativa e, principalmente, credível e respeitada.

A forma de fazer rádio alterou-se substancialmente nas últimas décadas, das transmissões sem fios às emissões multimédia, como encara esta evolução tecnológica?
Quando comecei usava-se o vinil e as cassetes, depois vieram os mini-discs e mais tarde os cd’s, até que chegou o formato digital. Tudo isto faz parte disso mesmo, a evolução tecnológica e não há outra forma de a encarar senão aceitá-la e usá-la. Por vezes sinto saudades dos tempos antigos e dessa forma de fazer rádio, mas é um facto que, nos dias de hoje, é tudo mais fácil e o acesso a muitas matérias está muito mais facilitado. É tudo uma questão de hábito e de nos adaptarmos aos novos tempos.
Mesmo a nível de músicas, hoje é muito mais fácil aceder a promotores, agentes e mesmo os próprios artistas. Não esquecendo que com o passar dos anos, as rádios locais começaram a ser vistas de outra forma por parte desses mesmos agentes, produtores e artistas. A maioria já nos respeita e já não há tanta discriminação relativamente às rádio nacionais. Claro que nem tudo é cor-de-rosa, mas o importante é fazer um bom trabalho.

João Silva

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Editor
Director do jornal O Sesimbrense