CONCERTO – MARIA EMÍLIA CANTOU EM SESIMBRA A ‘VOZ’ SENTIDA DO FADO TRADICIONAL

Maria Emília, natural de São Paulo, neta de um emigrante português da Anadia, filha de pai brasileiro (naturalizado português) e de mãe brasileira, ainda criança viajou pela primeira vez para o Minho na companhia do progenitor, que deixou o Brasil por causa da violência que ali se vivia na década de 1990. O casal estava separado, mas a mãe autorizou que a filha mudasse de continente. Pouco depois voltou à sua terra (a fadista nasceu a 23 de Maio de 1991), onde aos 6 anos se estreou a cantar em São Paulo, na Alfama dos Marinheiros, propriedade de um português. Regressou a Portugal, mas desta vez o pai escolheu Lisboa. Foi trabalhar para uma casa de fados, como guitarrista e, claro, a filha acompanhava-o. O pai decidiu desenvolver os dotes de Maria Emília e comprou-lhe discos da Beatriz da Conceição, Fernanda Maria e Hermínia Silva. Porém, o primeiro tema que cantou no nosso País, com 12 anos, foi os ‘Caracóis’, da Amália Rodrigues. Na capital portuguesa estreou-se na Tipóia, casa de fados que já não existe. Maria Emília tinha 13 anos, ou seja, há quinze anos que é fadista de profissão. Na altura, o pai tocava lá guitarra portuguesa. Mais tarde, a fadista actuou no Já Disse, Adega Machado e Forcado, tudo casas situadas no Bairro Alto. Neste lapso de tempo, a voz sentida de Maria Emília espalhou o fado tradicional por Espanha, Itália, Suíça, Bélgica, Argélia e, como é óbvio, Brasil. A fadista confessou que “o fado é um companheiro para toda a vida, com quem desabafamos as nossas angústias”, mas também é ele que “nos dá felicidade e com quem nos sentimos melhor”. Até agora, a fadista gravou um CD com 14 faixas, a maioria cantadas em Sesimbra no passado dia 26 de Outubro, num concerto que prendeu o público que, uma vez mais, deixou algumas cadeiras vazias do Cineteatro Municipal João Mota. Todavia, aqueles que escutaram Maria Emília – acompanhada por Carlos Manuel Proença (viola de fado), que também produziu o álbum, José Manuel Neto (guitarra portuguesa) e Daniel Pinto (viola baixo), todos músicos de qualidade insuspeita – não lhe regatearam aplausos, muito pelo contrário. A fadista escolheu fados dos reportórios de Beatriz da Conceição (a sua principal referência) e de Amália Rodrigues, “a diva que não podia faltar” e a sua ‘Lisboa Bonita’, marcha da cidade que remonta a 1964. “Escolhi esta canção porque não é alusiva a nenhum bairro em especial”, afirmou Maria Emília, esclarecendo que “gosto de todos os bairros lisboetas”. Do seu álbum fazem ainda parte ‘É Mentira’, de Maria da Fé, ‘Muito Embora Por Querer Bem” e “Sou Um Fado Desta Idade’, ambos de Beatriz da Conceição, “Sem Razão’, de Amália e os inéditos ‘Queira Deus’, ‘Foi Deus Que Quis Assim’, ‘Perfeito Pecado’, ‘Agora’ e ‘Minha Paz’. Maria Emília referiu que gravou “aquilo que gosto, sem imposições” e que este disco é “a minha verdade”. Quanto ao título do CD – ‘Casa de Fado’ – é uma homenagem da fadista ao seu local de trabalho. “A ideia foi passar neste disco a emoção de se ouvir fado tradicional numa casa de fado”, aliás o tema de abertura do álbum é precisamente ‘Casa de fado’, o local onde esta música soa mais intimista, onde a sentimos com mais força. O fado tradicional está muito bem entregue à voz sentida de Maria Emília, que cantou ‘Cheira Bem, Cheira a Sesimbra’, acompanhada pelo público que não se fez rogado e a aplaudiu de pé.

– Alves de Carvalho

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Director do jornal O Sesimbrense