Entrevista ao Grupo de Teatro Amador “De Vez em Quando”

FOTO: DOMINGOS VAZ

“Que Assombração, Evaristo!” esteve em cena no Cineteatro Municipal João Mota entre os dias 7 e 11 de junho. No estúdio da Sesimbra FM falámos com alguns membros do Grupo de Teatro Amador De Vez Em Quando: Eduardo Cunha, criador dos adereços e cenários e fundador da Associação do grupo de teatro, que nesta peça deu vida ao reflexo de Evaristo; Laura Pinto Correia, a personagem da calhandra Jaldira; Paula Gatinho, que interpretou Francelina, a namorada de Evaristo; Maria Manuel Gomes, autora dos textos e Vivência, mãe de Evaristo; e Rosário Cagica, o reflexo de Vivência.

Começo por vos perguntar como correu esta “assombração”, que balanço fazem?
Eduardo Cunha (EC): Correu-nos bem… saímos da nossa zona de conforto. Habitualmente temos levado o Evaristo como um taberneiro e este ano foi num contexto diferente. Foi para todos um desafio muito interessante.
Maria Manuel Gomes (MMG): Foi como o Eduardo disse. Eu escrevi a peça, mas se fosse só o que está escrito era 50% do trabalho. O grupo tem a capacidade de cada um, individualmente, criar a sua personagem, depois o Evaristo é a ponte entre todos. Este ano os ensaios foram muito poucos. A peça foi entregue aos colegas, salvo erro, a sete de maio, um mês antes de entrar em cena. Acho que foi dos melhores anos por isso mesmo.
Também tivemos, na estreia, um público muito efusivo que nos motivou. Provámos a nós próprios que conseguimos, com muito pouco tempo, fazer uma peça que leva muita gente ao teatro.

O grupo de teatro nasceu em 2010, mas a personagem Evaristo já existe há mais tempo.
Laura Pinto Correia (LPC): O grupo nasceu em 2008. Os serviços sociais da Câmara Municipal de Sesimbra lançaram o desafio de organizar uma peça infantil. Na altura, eu escrevi essa peça e começámos a construir o grupo. Em 2009, desafiámos o Carlos para voltar a pegar na personagem do Evaristo e, simultaneamente, fazer uma homenagem ao Mário João Sargedas, que foi o criativo das personagens basilares do grupo. Nesse ano ele não pôde e, como a trama roda sempre em torno do Evaristo, interpretado pelo Carlos Silva, não se realizou. Em 2010 ele aceitou. Foi nesse ano que lançámos estas temporadas do Evaristo. Quando iniciámos com o nome “A Festa Vai à Praça”, dado pelo Mário João, fazíamos a peça no Largo Eusébio Leão. O conceito era uma festa popular, uma noite de fados de S. João, em que havia fadistas, poesia popular, e o grupo de teatro fazia pequenos textos de ligação entre os intérpretes. Os textos eram escritos pelo Mário João Sargedas, de escárnio e mal dizer à vida da vila.

Quantas peças já apresentaram? E com que temas?
EC: Começámos em 2010 a saga do Evaristo, mas existiram alguns impasses. Houve um ano que não se realizou e outros dois por causa da pandemia. Mais as peças de Natal, que são inseridas no âmbito das peças da Câmara Municipal de Sesimbra. O nosso grupo de teatro é formado por funcionários da Câmara e não entra ninguém exterior. Pode participar, por vezes, um convidado especial, mas será sempre formado por funcionários da autarquia. Isto porque existem muitos pedidos para entrar no grupo e desta forma conseguimos controlar isso. Com a criação da Associação em 2019 conseguimos alguma independência dos serviços sociais.

Então a próxima peça será a de Natal?
EC: A Mané [Maria Manuel Gomes] teve a ideia de, no Natal, termos o Evaristo à noite, como aconteceu há 2 anos. Durante o dia temos a peça de Natal para as crianças e de noite a “Consoada do Evaristo”, com as personagens da “Festa Vai à Praça”. Há dois momentos diferentes no Natal.
MMG: a de Natal surgiu na época pós-pandemia. As pessoas estavam tristonhas e pensámos em fazer uma peça do Evaristo mais curta, simples, mas que alegrasse as pessoas.

Têm novos projetos em mente?
LPC: Temos um convite para fazer uma peça diferente no âmbito das comemorações dos 50 anos do 25 de abril.

Os vossos textos funcionam, muitas vezes, como uma sátira a várias personalidades. Como é que elas reagem?
MMG: No último ano não apareceu ninguém para ver como reagiam. Mas evitamos ao máximo aquela crítica direta política. Esse tipo de gozo não é muito “a minha praia” … brincamos com as pessoas. Fazemos uma piada ou outra nacional e local. Este ano brincámos com o presidente e com a vice, eles não puderam ir… têm de ver na gravação. (risos)
LPC: Já em 2010 sugerimos, durante uma peça, que o aeroporto fosse construído no Cabo Espichel. Estamos em 2023 e Portugal ainda não sabe onde é que vai fazer o aeroporto! (risos)

As vossas peças são muito direcionadas para o público sesimbrense, que procura no vosso grupo estas piadas mais “internas”, que pessoas de outros sítios não iriam perceber…
MMG: Quem vem de fora tem de ter tradutor ao lado. Há coisas que acontecem na terra que só os de cá é que riem porque sabem os assuntos que dão “burburinho”.
Paula Gatinho: Este ano foi quando o Carlos dizia: “mais depressa te sai o Euromilhões que a Câmara tapa os buracões”. (risos)
MMG: Já existiram convites para irmos a outros sítios mas teria de haver uma alteração substancial do texto, falar com as pessoas da terra para saber o que se passava lá. Também já temos uma ligação muito grande com os colegas do Cineteatro Municipal João Mota, são uma grande ajuda porque já sabem o que nós precisamos. Há uma relação afetiva… até com o público!

 

Filipa Macedo

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