As desigualdades em Portugal agudizaram-se nas últimas três décadas não obstante a adesão à União Europeia e à Zona Euro. Os 10% mais ricos da população residente no nosso País estão cada vez mais ricos: o seu peso no rendimento nacional subiu 5,3 pontos percentuais desde o início dos anos (19)80, em contraste com os 50% que têm mais baixos rendimentos, isto é, metade da população que vive em Portugal a qual registou uma redução de 5,2 pontos percentuais relativamente ao bolo total dos rendimentos. O estudo foi feito pela World Inequality Database, sediada na École d’ Économie de Paris. Maria Fernanda Amorim & família têm 4173 milhões €, seguida de Alexandre Soares Santos & família, com 3554 milhões € e Vítor da Silva Ribeiro & família com 1192 milhões €. José Neves, criador do Farfetch, ocupa a 4ª posição com 1010 milhões €. No quinto lugar aparece Dionísio Pestana com 681 milhões €. Segue-se Maria Isabel Martins dos Santos com uma fortuna avaliada em 574 milhões €. Entretanto, o Novo Banco perdoou uma dívida ao Rei dos Cogumelos português, o grupo Sousacamp, que esteve dois anos à beira da falência com dívidas de 60 milhões €, mas sobreviveu depois de um ‘haircut’ de 70% por parte da banca credora, com os credores comuns a perderem quase 100% dos seus créditos. O Novo Banco (financiado por todos nós) aceitou fazer um ‘haircut’ de cerca de 24 milhões € dos cerca de 34 milhões que tinha a haver, enquanto o grupo Caixa Agrícola Mútuo fez um desconto de 11 milhões aos 15,9 milhões que reclamava. Já os credores comuns foram obrigados a perdoar praticamente todos os seus créditos sobre a Varandas de Sousa, o braço industrial do grupo Sousacamp. Já que estamos a falar em dinheiro, do deve e do haver, refira-se, por exemplo, que os reformados portugueses que auferem mais de 900 euros – e que sofrem cortes desde Maio de 2010 – continuam hoje a ganhar menos do que nessa altura apesar da reposição dos escalões do IRS. Em 2010, um reformado que recebia quase 2400€ mensais descontava por ano (retenção na fonte) cerca de 3300€; hoje aqueles que recebem pouco mais de 2400€ mensais descontam cerca do dobro anualmente! E isto acontece desde 2011, com ligeiras oscilações. Em Itália, por exemplo, ao tempo do governo de Matteo Renzi devolveram aos reformados o dinheiro que lhes tiraram: 500€ todos os meses, mais as respectivas reformas até perfazer aquilo que o Estado italiano sacara àqueles que descontaram 40 e mais anos. Em Portugal, o Estado é de más contas, ou seja, não é de confiança. E como quem cala consente…
– A. de C.