As autoridades policiais já identificaram alguns dos ululantes que insultaram Marega, avançado maliano ao serviço do FC Porto, durante o jogo com o Vitória de Guimarães, que decorreu no Estádio D. Afonso Henriques. As imitações dos símios começaram no aquecimento dos dragões e intensificaram-se quando o ‘artilheiro’ dos portistas marcou o segundo golo, que deu a vitória ao conjunto treinado por Sérgio Conceição, partida referente à I Liga. A repulsa por tais actos cobardes tem chegado a Portugal vinda de jogadores a trabalharem em vários países, como Éder, que desde a Rússia afirmou: “És enorme, Marega!”. O ex-benfiquista, Nélson Semedo, agora no Barcelona, também foi vítima no nosso País de insultos racistas: “Se fosse hoje também abandonava o campo.” Mamadou Ba, dirigente do SOS Racismo, espera que Marega “não se transforme num herói de um dia”, porque o combate ao racismo “não pode ser um homem sozinho a enfrentar o problema”. E vai mais longe: “A existência de racismo por cá já deu provas suficientes de ser uma realidade transversal a todos os espaços da nossa sociedade.” Entretanto, não resistimos a transcrever aquilo que Bento Rodrigues, jornalista da SIC, disse na abertura do Primeiro Jornal, referindo-se aos comentários racistas de que Marega foi alvo: “A coragem de ser o primeiro futebolista em Portugal e um dois poucos no Mundo a abandonar um jogo depois de ouvir insultos racistas. O carácter de desafiar os que o tentaram travar sem perceberem que já não era sobre um jogo de futebol nem sobre o resultado, mas sobre o que nos define enquanto civilização.” E prosseguiu: “A lucidez de saber que este é o momento que define um homem, que esta atitude vai muito para lá do estádio que tem impacto nas ruas, nos bairros, nas vidas dos que sofrem insultos racistas todos os dias. Agora, a notícia.”. E a reportagem começou.
– A. de C.
