O Sindicato dos Jornalistas (SJ) tem recebido, nos últimos dias, várias denúncias de jornalistas de todo o país, que estão a ser impedidos de fazer o seu trabalho, por falta de colaboração das entidades oficiais. No seu comunicado, datado de 26 de Março (recebido às 16H42), lê-se: “Com a activação dos planos municipais de emergência e protecção civil, muitos presidentes de Câmara assumiram o comando das operações, numa lógica de vedar a informação ou, nalguns casos, de escolher os jornalistas a quem facultam dados, numa violação clara da lei e do direito à informação.”
Em Pombal, o presidente da edilidade decidiu fazer um briefing diário com os órgãos locais, “escolhendo apenas três jornalistas para as ‘entrevistas’ (como lhes chamou), gravadas em vídeo e só mais tarde partilhadas com os restantes órgãos de comunicação locais e regionais”. Entretanto, depois de alertado para a ilegalidade da decisão, “acabou por convocar todos os jornalistas dos órgãos regionais e nacionais para de imprensa via skype”.
Em Leiria, “o presidente da Câmara optou por prescindir dos jornalistas gerindoele próprio a informação directamente para as redes sociais”. Em Viana do Castelo, quando o ‘JN’ reportou que não havia material de protecção no hospital, no dia seguinte “os profissionais de saúde receberam um manual de boas práticas” que inclui a “suspensão de contactos com a comunicação social”. (…) Vários jornalistas reportaram “dificuldades em confirmar dados junto dos serviços de saúde pública”. Alguns chegaram a ser remetidos para “as conferências da DGS, já que tinham assim tanto interesse”.
Há, ainda, outra dificuldade apontada por vários jornalistas em diversos pontos do país: “as reuniões de Câmara que, até aqui, eram abertas vão ser feitas por videoconferência, mas sem que os jornalistas tenham acesso”. Convém lembrar que as reuniões das autarquias são tão importantes para a imprensa regional como as sessões do Parlamento são para a imprensa nacional sendo, por isso, “fundamental que os órgãos de informação continuem a assistir às mesmas, ainda que por videoconferência, sob pena de lhes ser claramente sonegado o direito à informação”.
A terminar: “Os jornais, as rádios e as televisões regionais não podem ser meras caixas de ressonância dos órgãos locais. Em tempo de crise com a que atravessamos, é imperioso que os media existam para mostrar o retrato do país, e isso só se consegue com jornalismo.” O jornalismo faz-se “com perguntas e não com comunicados em que apenas prevalece uma versão dos factos”. – Alves de Carvalho