NOTA: a entrevista decorreu em julho, antes da realização do festival.
O Carnaval de Verão em Sesimbra tem vindo a ser marcado pelo festival MegaSamba, evento que reúne pessoas de todo o mundo da cultura do samba. Entre os dias 27 e 30 de julho vão decorrer vários concertos e workshops com o objetivo de dar a conhecer as virtudes do género musical brasileiro às gentes de Sesimbra e aos seus visitantes. Paulo Soromenho e Ricardo Alves são membros da organização e do Grupo Recreativo e Escola de Samba Bota, responsável pelo festival MegaSamba.
Quais são as novidades deste ano?
Ricardo Alves (RA): O conceito é sempre o mesmo. As novidades acabam por ser os artistas convidados. A nível de organização, para facilitar a circulação das pessoas, vamos eliminar um palco: passam a ser dois (Palco MegaSamba e Palco Sunset) em vez de três. Vamos também alterar a localização do técnico de som, que ficava no meio do público.
Paulo Soromenho (PS): Tal como o Ricardo disse, as diferenças deste ano passam pela reformulação de alguns setores. Em certos espetáculos vamos apostar mais na altura do pôr do sol, no sunset. Tínhamos formações musicais e projetos mais pequenos e este ano vamos dar oportunidade a projetos maiores. Nos serviços, vamos tornar o funcionamento do bar mais fluente, tanto para o staff como para quem usufrui do espaço.
Quanto aos artistas, nós preferimos apostar mais na MegaBateria e nos workshops. O festival tem vindo a crescer muito, mas ainda não tem capacidade financeira suficiente para trazer artistas conhecidos do público. O nosso foco é a aprendizagem do samba. Todos os anos tentamos trazer artistas diferentes, e é o que tem acontecido. Este ano escolhemos os nomes antes dos resultados do Carnaval do Brasil e grande parte das pessoas que vêm do Rio de Janeiro foram campeãs, o que só abrilhanta mais este cartaz.
O MegaSamba nasce em 2011 com o 1.º Encontro Europeu de Baterias de Escola de Samba, que tinha o objetivo de criar uma MegaBateria. Como é que se passa deste encontro para o festival que temos hoje em dia?
PS: A primeira ideia era realmente um encontro de baterias de escolas de samba espalhadas pela Europa. Começámos a notar que as pessoas vinham de forma individual ou em pequenos grupos… vimos que o conceito não poderia ser só este. Na altura, o Ricardo foi das pessoas que mais incentivou ao crescimento deste encontro. Nas primeiras edições já existiam as tertúlias musicais, mas não em forma de concerto. Depois introduzimos a parte pedagógica, os workshops.
RA: Existem muitos festivais que reúnem muitos estilos musicais e nós queríamos cingir o nosso ao samba para que pudéssemos, não só evoluir enquanto escolas de samba, mas também englobar as pessoas de Sesimbra.
PS: Envolver os sesimbrenses é um dos grandes objetivos do festival MegaSamba. O facto de os espetáculos serem abertos ao público é uma forma de educar a população local e combater o preconceito que existe em relação aos eventos de samba. Acho que começámos a conquistar as pessoas, pois estas já reconhecem o impacto da forte dinâmica em termos culturais e turísticos do festival na vila.
Quais são os maiores obstáculos ao crescimento e desenvolvimento do MegaSamba?
RA: Pessoalmente, acho que o crescimento nem sempre é uma coisa benéfica. Assusta-me essa evolução porque sinto que o festival pode perder a sua essência e qualidade.
PS: O evento, estruturalmente, não pode crescer muito. Para já, tem sido assim. Achamos que é a receita ideal e creio que se manterá no futuro.
O MegaSamba tem vindo a crescer ao longo dos tempos e existem cada vez mais pessoas a aderir ao festival e a deslocarem-se até Sesimbra nesta altura do ano. A nível de workshops, por exemplo, como é que gerem o número de inscrições?
RA: Nós limitamos as inscrições porque não achamos justo que as pessoas paguem e depois não tenham condições para aprender comodamente. Temos o exemplo de outros festivais que conhecemos… acabamos por nem ir aos workshops por reunirem demasiadas pessoas.
PS: No decorrer do festival as nossas verbas principais vêm do bar e das inscrições nos workshops. Nós preferimos não ganhar tanto e garantir qualidade e conforto a quem participa.
Esperam artistas e visitantes de quantos países?
PS: Na última edição tivemos cerca de 18 países a participar. Este ano esperamos o mesmo número, ou talvez mais um ou outro. Pela primeira vez vamos receber uma comitiva de Nova Iorque. O festival poderá ir desde Nova Iorque até Moscovo! Aquilo que ainda estamos a tentar, e que é o nosso objetivo, é trazer alguém do Oriente, nomeadamente do Japão, que tem uma forte ligação com o samba. Eles têm carnavais fortíssimos em Tóquio e Osaka, com escolas de samba. É o que nos falta em termos de universalidade.
Que artistas é que destacam para esta edição?
RA: Para nós, todos os artistas são de destaque! Podemos salientar o Mestre Lolo e o intérprete oficial Pitty de Menezes, ambos da Escola de Samba Imperatriz Leopoldinense, que foi campeã do carnaval do Rio de Janeiro 2023; a Mari Mola, rainha do carnaval do Rio de Janeiro 2023 e musa do GRES Paraíso do Tuiuti; o 1.º casal mestre-sala e porta-bandeira, Phelipe Lemos e Rafaela Theodoro, também da Imperatriz; e a nossa Ana Filipa Alves, musa do GRES Unidos da Tijuca.
Que projetos é que estão em mente para o futuro?
PS: Temos algumas maluquices (risos). Estão algumas ideias na gaveta, há alguns anos, mas por questões de estrutura e disponibilidade, ainda não lançámos. Também não queremos “inventar muito”, queremos algo equilibrado.
Nada que se possa revelar?
PS: Não, porque depois pode não se concretizar! Também há coisas que estamos muito limitados a fazer por não sermos profissionais. O que se pode dizer é que gostávamos de ter cobertura da comunicação social e mais visibilidade nos media a nível nacional. Era o que gostaríamos de ver reconhecido.
Por último, queremos agradecer o convite e ficamos muito felizes que o jornal da nossa terra tenha feito este reconhecimento e cobertura do nosso trabalho.
Filipa Macedo