O movimento é a chave para a aprendizagem

Keith Banfield, Mestre de Choi Kwang Do, esteve em Sesimbra durante alguns dias, para ministrar uma formação, na sequência de um convite feito pela Associação Portuguesa de Choi Kwang Do, com o objectivo de melhorar os conhecimentos dos Instrutores e capacitá-los de forma a poderem realizar os exames dos seus alunos e, ao mesmo tempo ajudar a divulgar a modalidade Choi Kwang Do em Portugal. Esta arte  marcial, desenvolvida por um antigo praticante de Taekwondo, distingue-se por uma maior flexibilidade e fluidez de movimentos, relativamente ao estilo mais rígido de outras artes marciais tradicionais, incorporando movimentos e alongamentos oriundos do Yoga, para desenvolver a flexibilidade dos praticantes e promover a saúde.

Como surgiu a ideia de efectuar formação e participar no seminário em Sesimbra?
Estou aqui em Sesimbra devido ao convite da senhora Luísa Zacarias e do seu filho, David Rodrigues, que são instrutores de artes marciais e os primeiros cinturões negros em Choi Kwang Do em Portugal. Eles treinaram inicialmente com um instrutor chamado Sérgio Capítulo. Isto foi há cinco anos, quando viemos pela primeira vez, a Sintra – Algueirão, realizar o primeiro seminário de Choi Kwang Do em Portugal. Desde então temos aqui o Choi Kwang Do em Sesimbra, e eles foram os primeiros alunos a estudar esta arte marcial.
Recentemente, no Reino Unido, celebrámos os 30 anos de Choi Kwang Do no meu país. O fundador desta arte marcial, que se chama Kwang Jo Choi, começou por ser mestre em Taekwondo. Porém, quando atingiu os 30 anos, ficou numa cadeira de rodas, porque nas artes marciais tradicionais – e isto poucas pessoas sabem – quando damos golpes com as mãos, ou com os pés, isso pode causar mais danos ao corpo do que efeitos benéficos.
Ora as artes marciais seria suposto as artes marciais promoverem a longevidade e a saúde, mas devido aos movimentos bruscos e esticados das artes marciais tradicionais, estas têm um efeito oposto: e foi por isso que Kwang Jo Choi ficou numa cadeira de rodas. Isso afectou-o fisicamente, mas também psicologicamente.
Porém, da dor pode resultar algo bom, e então ele pôde olhar para trás e reflectir, e repensar acerca do treino que tivera anteriormente em artes marciais, compreendendo que tinham sido os movimentos que praticara que tinham provocado danos no seu corpo.

E ele conseguiu resolver os problemas de saúde?
Sem dúvida. Um pouco por acaso, e com a sua intuição, foi capaz de curar o seu próprio corpo. Também aprendeu Yoga e no modo de fazer alongamentos. Desenvolveu igualmente alguns exercícios de fortalecimento para as suas pernas. Alguma coisa o guiou nesse processo – nós designamos isso como intuição, mas talvez seja uma consciência superior.
De qualquer modo, isso ajudou-o. Mais tarde, surgiram conhecimentos científicos nesta área, tais como a bio-mecânica (o modo como as articulações funcionam), a cinesiologia (o modo como os músculos se articulam com o resto do corpo) e a psico-neuro-imunologia – psico tem a ver com a nossa psicologia, neuro com o funcionamento do cérebro e o sistema nervoso, e imunologia com o sistema imunológico, portanto podemos considerar uma terapêutica para a mente-corpo-alma, actuando em conjunto para uma cura holística do indivíduo

E esses problemas ocorrem com outros praticantes?
Existem muitos praticantes de artes marciais em todo o mundo cujos corpos ficam com mazelas, devido a essa prática. Quando são jovens, não parece haver problema, mas à medida que ficam mais velhos, quanto mais praticam, maiores são os danos, e então acabam por ter problemas de saúde prematuros, com origem nessa prática de artes marciais.
Com a nossa arte, e porque ela é auto-curadora, estes indivíduos podem aprender práticas seguras, de modo a reabilitar os seus corpos, curando-se e podendo continuar as suas carreiras nas artes marciais.

O Choi Kwang Do também serve para quem nunca praticou outra arte marcial?
Claro que sim. Disponibilizamos às pessoas um modo melhor de praticar artes marciais. Há muitas pessoas que pensam que as artes marciais são apenas para lutar, mas eu quero dizer que, acima de tudo, são acerca de aprender a não lutar, aprende-se a usar a mente para travar qualquer luta antes de ela começar. Porque no mundo a paz é mais importante do que as agressões.
Também se pensa que o movimento é apenas para o corpo, mas é sobretudo para a mente e só depois disso é que se obtém, como uma resposta secundária, músculos bem desenvolvidos, um sistema cardio-vascular em forma, pulmões e coração fortes.
No Reino Unido, uso o Choi Kwang Do como uma ferramenta para ensinar crianças, adolescentes e adultos, a desenvolver as potencialidades que têm, e evitando potenciais problemas dum exercício físico não adequado.
Temos feito vários estudos no Reino Unido. Um desses estudos, conduzido em Londres, numa escola secundária, com alunos de 15 anos. Estes alunos começaram a praticar exercícios em artes marciais, em alguns dos dias da semana, das 7 e meia até às 8 e meia. No final dos seis meses que durou este estudo, foi feito um teste em matemática, e verificou-se que estes alunos melhoraram as notas em vários níveis, e nenhum deles desceu a classificação. Mas também a motivação destes alunos melhorou muito, ao ponto de influenciarem outros na sua turma. É por isso que dizemos que o movimento é a chave para a aprendizagem.
Mas ainda mais interessante é que, no início de cada aula, realizavam um exercício silencioso (meditação), que consistia apenas em fecharem os olhos e seguir o fluxo da mente, à medida que respiravam: um exercício que durava, no máximo, um minuto. E foi relativamente a este exercício que eles próprios reconheceram que foi o que mais os ajudou: quando iam para um exame, sentavam-se, quietos, fechavam os olhos, e então, em vez de ficarem ansiosos, ficavam calmos e podiam aplicar o seu potencial na realização das provas.

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O Choi Kwang Do é uma arte familiar para as várias faixas etárias, sem limite de idade acima dos 6 anos e/ou condição física, onde os movimentos e técnicas são executados ao ritmo de cada aluno.
As aulas são realizadas no Clube Sesimbrense (Grémio) em Sesimbra, e na ACRUTZ, no Zambujal:
– Terças e Quintas-feiras das 20:00 às 21.00 (ACRUTZ)
– Quartas – feiras das 19:00 às 19:45 para crianças, das 20:00 às 20:45 aulas para adultos (Clube Sesimbrense)
– Sábados das 10:00 às 10:45 aulas para crianças e das 11:00 às 11:45 aulas para adultos (Clube Sesimbrense)

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Luisa Zacarias explica-nos quais os objectivos do convite feito ao Mestre Keith Banfield:

A ideia surgiu porque, uma vez que nós praticamos esta arte marcial Choi Kwang Do e somos a única escola no país, não havendo instrutores mais graduados que nos possam orientar, sentimos a necessidade de desenvolver novas técnicas e obter mais conhecimento de forma a estarmos aptos a ministrar as aulas aos nossos alunos de uma forma correcta, fazendo jus aos ensinamentos e orientações dadas pelo nosso Grão Mestre Kwang Jo Choi.
Para além da divulgação que é um elemento importantíssimo, é necessário também termos as escolas em nosso nome e sabermos, como realizar os exames aos nossos alunos.
O facto do Mestre Keith Banfield ser Member Faculty, estando directamente ligado ao Grão Mestre no Choi Kwang Do e, estar ligado à área da educação é uma mais valia para as nossas escolas, para nós instrutores e para os nossos alunos, na medida em que os nossos objectivos são:
Promover Disciplina, Concentração, Auto – Estima, Auto- Confiança, Socialização e Auto – Defesa; Combater o bullying e, a violência física e psicológica;
Exercitar a mente, o físico e o espírito;
Promover a Saúde e o bem-estar em geral.
Esta nossa necessidade e vontade de trabalhar e, formar os nossos alunos enquanto bons cidadãos, levou-nos a convidar o Mestre Bandfield para nos apoiar e orientar num melhor crescimento, pessoal e profissional, ao que ele aceitou prontamente, através de uma formação intensiva e muito produtiva.
Em meu nome individual e do meu filho David Rodrigues, em nome dos nossos alunos e da Associação Portuguesa Choi Kwang Do, deixamos um agradecimento profundo ao Mestre Keith Bandfield, pelo apoio cedido. Pil Seung Sir!!

David Rodrigues, Keith Banfield e Luisa Zacarias, durante o seminário no Clube Sesimbrense.

 

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Director do jornal O Sesimbrense