FLAK EM ENTREVISTA AO “SESIMBRENSE”

FLAK é um músico e produtor português com uma carreira de mais de três décadas (36 anos no mínimo) de muita dedicação à música e que passa cada vez mais tempo em Alfarim, onde tem casa e um estúdio. Em 1983 fundou, com Xana e Alex Cortez, a banda Rádio Macau com a qual editou oito discos e escreveu temas como “Amanhã é Sempre Longe Demais”, “Anzol” e “Elevador da Glória”. Em 2001 fundou os Micro Audio Waves – com Carlos Morgado e posteriormente Cláudia Efe -, com os quais viajou pela Europa e cujo disco “No Waves” foi considerado um dos mais excitantes pelo carismático John Peel, da BBC Radio One. Desde os anos 90 até agora integrou os Palma Gang e produziu dezenas de discos de Jorge Palma, GNR, Entre Aspas, Alexandre Garret, Requiem Pelos Vivos e dos próprios Rádio Macau. FLAK, pseudónimo de João Pires de Campos, completa 58 anos no dia 18 de Outubro. De início tocava bateria, mas foi na guitarra que brilhou. Outra faceta deste músico: escreveu crónicas semanais no “Se7e”, um semanário que falava de espectáculos. Em 2015 lançou “Nada Escrito”. Em 2017, FLAK juntou-se a Benjamim e nasceu “Cidade Fantástica”, um álbum novo, em grande parte composto em Alfarim, o local onde a veia inspiradora do compositor está mais acesa. O disco foi posto à venda em Outubro de 2018. A Antena 3 considerou-o um dos melhores discos nacionais desse ano, bem como os leitores da revista especializada “Blitz”. Em 2019 FLAK tem divulgado este disco estrada fora com a sua banda e um espectáculo ambicioso, que o público sesimbrense, e não só, pode apreciar no dia 12 de Outubro, no Cineteatro Municipal João Mota, às 21H30.

Quais as recordações que guarda dos Rádio Macau, uma banda que fez sucesso? Porque é que suspendeu a actividade durante cinco anos na década de 90, quando estavam no auge? A banda renasceu, mas terminou em 2008, com o álbum de originais “8”. O que ditou o fim dos Rádio Macau e qual é a sua relação com os outros elementos da banda?

As recordações são óptimas. Somos amigos de infância, tocámos juntos muitos anos no liceu, em Sintra. Gravámos o primeiro disco em 1984 e andámos muitos anos na estrada. Resolvemos parar por cansaço e alguma saturação. Parámos uma segunda vez, mas os Rádio Macau não acabaram. Se todos quiserem e tiverem disponibilidade, a banda pode ser reactivada em qualquer altura. Temos tocado juntos, não como Rádio macau, mas integrados noutros projectos. Em Julho deste ano convidei a Xana para darmos um concerto no Centro Olga Cadaval, em Sintra, onde tocámos, entre outras canções, algumas dos Rádio Macau.

Quase duas décadas mais tarde optou por um projecto a solo, no qual a sua voz é o principal instrumento, relegando a guitarra para plano secundário. Porquê?

Aquilo de que eu mais gosto é compor canções, os outros instrumentos que uso é para pôr em prática aquilo que componho. A veia inspiradora continua acesa.

Gostou mais dos projectos em conjunto ou prefere o actual, a solo?

São coisas distintas. Gosto de trabalhar com outras pessoas, mas a solo dá-me mais liberdade, não preciso de fazer cedências. Mas, com é óbvio, nos meus concertos toco com outras pessoas.

Quais são as suas influências estrangeiras?

Gosto da música psicadélica dos anos 60: Beatles, Pink Floyd, Beach Boys. Gosto de todo o género de música.

Quais as alterações de estilo que a sua música sofreu ao longo dos anos? No tempo dos Rádio Macau era pop rock; com a “Cidade Fantástica” já é indie rock, género muito cultivado hoje por muitas bandas portuguesas. O que vamos ouvir no concerto de Sesimbra?

Sempre fiz música variada, porque sou curioso. Desde a música electrónica ao jazz, passando pelo pop rock. Eu toco com músicos, o indie rock é mais independente. O que faço hoje não é muito diferente do que fazia em 1998, pelo contrário, é muito parecido. O disco que fiz há vinte anos é muito parecido com este último, falando de estilos de música. O concerto vai-se basear no “Cidade Fantástica”, mas lembrando algumas canções mais antigas e versões de outras que gosto. O concerto vai ter uma parte mais intimista, com canções que não costumo tocar ao vivo. Este tipo de concerto não se vai repetir, é diferente daqueles que dou quando ando na estrada.

Você passa hoje bastante tempo em Alfarim. Qual é a inspiração que esta aldeia lhe pode dar para futuros projectos?

Já estou a compor música nova em Alfarim. A tendência é passar cada vez mais tempo em Alfarim. O estúdio funciona agora nesta aldeia, já não tenho o de Lisboa.

A música portuguesa está de boa saúde ou nem por isso? A Comunicação Social divulga a música feita por compositores portugueses com frequência ou só de vez em quando?

A música portuguesa está de muito boa saúde, a qualidade é cada vez melhor. A Comunicação Social é que dá pouquíssimo destaque ao que se faz em Portugal.

Coloca a hipótese de voltar a fazer parte de uma banda ao jeito dos Rádio Macau versão século XXI?

De uma banda não, e muito menos à moda antiga. Se tal acontecer será com outras pessoas e optando pela música instrumental.

Este ano participou, enquanto compositor, no RTP Festival da Canção. Qual o balanço que faz, inclusive do nível geral das canções que chegaram à fase final?

De um modo geral foram boas. Agora, os compositores são livres de apresentar aquilo que querem. Hoje é por convites, não há júri. Quanto às canções, a média foi boa.

Praticou algum desporto? Qual é o clube da sua simpatia?

Nunca pratiquei desporto, ao contrário do meu pai, que foi guarda-redes de futebol do Benfica e da Académica. Percebi que o meu jeito para o desporto era muito pouco e, para não ficar mal visto perante o meu pai, dediquei-me à música. O meu pai era do Benfica e eu tenho simpatia pelo clube, mas não sou um adepto activo. Gosto de futebol e de atletismo.

Gosta de cinema e de teatro?

Vou mais vezes ao cinema do que ao teatro, mas gosto de ambos. Faço música para cinema e para teatro. Agora, estou a fazer música para uma longa-metragem do José Nascimento, o filme ainda está em fase de rodagem. No cinema não tenho géneros específicos de que goste, nem no teatro. Há pouco tempo revi “O Leopardo”, do Luchino Visconti, um filme histórico (com Burt Lencaster, Alain Delon e Claudia Cardinalle). Gosto mais dos clássicos, de ver o Humphrey Bogart ou os filmes do Alfred Hitchcock. Recentemente, tive uma desilusão com “Era uma vez… em Hollywood”, esperava mais do Quentin Tarantino. O filme não é mau, mas não se compara ao “Pulp Fiction” e outros deste grande realizador.

– Alves de Carvalho e Filipa Macedo

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Director do jornal O Sesimbrense