A mais antiga sociedade de cultura e recreio do concelho de Sesimbra foi fundada em 1853 por José António Pereira. Ocupa um lugar de relevo pelos elevados
contributos ao nível musical, cultural, associativo e recreativo ao longo dos 168 anos de existência. Dentro de poucos dias o Clube Sesimbrense voltará rejuvenescido e renovado ao nosso convívio, com a sala de visitas e as portas abertas aos
sesimbrenses e forasteiros.
“O Sesimbrense” fez uma visita ao seu vizinho “Clube Sesimbrense” e colocou algumas perguntas à nova direção da ancestral coletividade, constituída por Sara Pereira, João Cruz, João Maciel, Mónica Almeida, Rita Gouveia, Pedro Mateus e João Proença.
O clube Sesimbrense foi a eleições e os novos órgãos sociais foram eleitos, quem são os novos corpos dirigentes e qual a visão para este espaço?
Uma das nossas visões em relação aos órgãos sociais é desenvolver uma metodologia de trabalho centrada nas pessoas. Por isso, e assumindo a importância da formalidade dos órgãos e das suas funções, não distinguimos cargos, antes indivíduos. Desta forma, o coletivo que está a trabalhar neste projeto é composto por sesimbrenses que acreditam que o Clube Sesimbrense ou Grémio, como preferimos chamar, tem a missão de ser um espaço aberto a todas as pessoas que querem viver uma experiência centrada na arte e na cultura. Achamos urgente a nossa comunidade desenvolver dinâmicas que enriqueçam os laços e desenvolvam empatia através da arte. O Grémio pretende ser a casa destas pessoas.
Quando tomaram posse?
As eleições foram a 24 de Julho de 2021 e a tomada de posse foi logo de seguida.
O trabalho da nova direção é a continuação do trabalho da anterior direção ou pretendem efetuar mudanças e diferenciarem-se?
A direção anterior teve a difícil tarefa de manter as portas abertas em plena pandemia. O desgaste provocado por dirigir uma associação num tempo em que as pessoas estavam proibidas de se juntar é enorme. As condições financeiras e estruturais em que o Grémio nos foi entregue são absolutamente miraculosas e denotam que quem cá esteve trabalhou com paixão e afinco para manter o barco à tona de água. Só nos merecem o mais profundo respeito. Este coletivo pretende no entanto, aproveitar o interregno de dinâmica para lançar um projeto completamente diferente que sirva os objetivos de quem se associa e de quem vive ou visita o nosso território…
Que iniciativas estão previstas para este mandato, tendo em conta a pandemia que se instalou?
Para nós a pandemia já não entra na equação. Acreditamos todos que estamos a viver o fim deste ciclo pandémico e por isso o nosso projeto começa por lançar um espaço de convívio o “Grémio Café”. Desta forma, o Grémio pretende ser antes de mais nada, um espaço onde qualquer pessoa pode entrar, conviver, criar, discutir novas ideias, dançar, ouvir um vinil, ler um livro, ver um espetáculo, aprender a tocar um instrumento, participar numa conferência, sentir uma tertúlia, enfim, viver e respirar cultura. Este espaço na sala nobre, será o ponto de entrada para um imenso mundo de oportunidades para crianças, jovens, anciãos, famílias, grupos de amigos… Enfim, seja bem-vindo quem vier por bem.
Têm havido contatos com outras coletividades e/ou associações em termos de iniciativas sociais e culturais no concelho?
Não seria possível alavancar um projeto cultural sem convergir com outros coletivos. Desde que começámos a trabalhar neste projeto já surgiram parcerias com diversos grupos como os Sesimbrotes, associação francófona de Sesimbra, projeto Família+, a associação de teatro Sui Generis e muitas outras surpresas que estamos a preparar. Queremos ser muito francos neste assunto… O Grémio é um espaço aberto a convergir ideias que façam sentido para a nossa comunidade e que tenham uma matriz cultural e artística.
E com as autarquias locais?
Na nossa opinião e conhecendo muitas realidades fora do nosso concelho, as nossas autarquias locais desenvolvem um enorme esforço para dar resposta ao crescimento cultural dos nossos territórios. No entanto, é preciso entender que as pessoas, quer sejam numa perspetiva individual quer seja numa perspectiva coletiva, têm uma parte muito importante deste trabalho nas suas mãos. Não basta ficar nos nossos ninhos e esperar que tudo apareça feito. É preciso arregaçar mangas e ser capaz de trabalhar em conjunto, incorporar ideias diferentes e inovar. Queremos fazer a nossa parte e estamos aqui prontos para participar na estratégia do nosso concelho.
Qual a vossa visão sobre a Instituição per si?
Temos sentido que pouca gente sabe que originalmente o Clube Sesimbrense surgiu como Sociedade Philarmónica de Cezimbra e mais tarde Grémio Philarmonico Cezimbrense ou seja, a génese desta coletividade era a música. Mais tarde, em 1891, evoluiu para Grémio Literário e Artístico Cezimbrense. Esta evolução mostra como a componente artística ainda se tornou mais forte e abrangente em que uma das suas componentes mais vincadas era ser um “sala de visitas de Sesimbra”. Já em 1939 o nome “Grémio” foi abandonado por imposição do Estado Novo e daí nasceu o “Clube Sesimbrense” com a história que todos nos recordamos. É inevitável considerar esta associação como uma das mais marcantes da história da nossa Vila. E o nosso foco é contribuir para esta história já muito rica com um novo capítulo onde a Cultura e a Arte voltam a ser a matriz principal da atuação do Grémio.
O “Grémio” é uma instituição com 168 anos de existência e que no próximo 2 de fevereiro celebrará mais um aniversário como irá decorrer a efeméride?
Estamos a trabalhar dia e noite para acabar as inúmeras intervenções no espaço para que no dia 5 de Fevereiro, data da celebração do nosso 169º aniversário, tudo esteja pronto para lançar o nosso projeto. Iremos em breve lançar um convite à comunidade para celebrar connosco a reabertura de portas do Grémio e para isso construímos um cartaz muito rico. Sugerimos que se juntem às nossas redes sociais para saberem mais novidades. Podem no entanto marcar já na agenda que no dia 5 de Fevereiro sábado, o Grémio estará de volta…
O clube Sesimbrense marca presença nas plataformas digitais (Facebook, Twitter, Instagram, Youtube) para comunicar com os sócios e o público em geral, que tipo de feedback recebem sobre estas presenças digitais?
Um dos trabalhos que desenvolvemos foi uma renovação das nossas redes sociais. Esta renovação terminou há muito pouco tempo pelo que o impacto ainda é diminuto. Queremos também, a este respeito, explicar que o Grémio não tem pressa. Não teremos uma estratégia agressiva perante as pessoas. Nós estamos cá. Estamos a aproveitar ao máximo o que um projeto destes tem para oferecer. Quem quiser conhecer que bata à porta… Aliás, ela está aberta. É só entrar, pedir uma imperial e colaborar…
O “Grémio” sendo uma coletividade como encaram o futuro?
O futuro será escrito por todos os que vivem nesta terra. A vida é um dom que nos foi “dado” cabe-nos decidir o que fazer com ele. O tempo vai passar e nós queremos aproveitar cada folgo de ar que nos é concedido. Não temos medo do futuro pois sabemos que ele será franco. Se daqui por mais 169 anos o grémio ainda existir é porque é um projeto que faz sentido. Se entretanto fechar é porque outras dinâmicas se tornaram mais importantes… No fundo, temos apanhado muito pó de muitos anos acumulado, temos perdido muitas horas a limpar, pensar, refletir, construir, destruir… Mesmo que o futuro seja curto, o presente tem sido generoso e por isso, os privilegiados somos nós…
João Silva