Misericórdia de Sesimbra: “A ameaça covid foi um grande desafio”

A Santa Casa da Misericórdia de Sesimbra, fundada no século XVI, mantém os princípios basilares da solidariedade social no apoio de famílias mais carenciadas, idosos e crianças do concelho de Sesimbra.
O jornal “O Sesimbrense” endereçou algumas questões à provedoria da Misericórdia de Sesimbra e obteve as seguintes respostas.

Com o atual desagravamento das restrições, estão previstas novas medidas na parte operacional da SCMS? Se sim quais?
A SCMS possui um Plano de Contingência, bastante apertado que conta já com 9 versões, aprovadas consoante os números de casos no concelho e as diretivas da DGS. Nesse sentido o avanço e retrocesso das restrições na instituição têm acompanhado a pandemia, essencialmente quanto às visitas aos utentes, mantendo-se todas as outras medidas em execução.

Quais são as valências e os serviços que prestam à comunidade sesimbrense?
A SCMS tem valência de internamento em residência para idosos, possuindo 2 ERPI, o ERPI Santiago e o ERPI Senhor Jesus das Chagas. Tem igualmente valência de CATL, Serviço de Apoio ao Domicilio, Assistência a Carenciados em parceria com a CMS e o Banco Alimentar, Centro de Dia (atualmente encerrado por imposição legal), a Fisioterapia ao Domicilio e o Gabinete Sant’Ana com Fisioterapia, Psicologia, Acupuntura, Terapia da Fala e Sala de Snoezelen abertos à comunidade.

Quais foram os períodos em que ocorreram aumentos do número de refeições para as pessoas carenciadas?
A assistência a carenciados, através de fornecimento de refeições ou de cabazes alimentares aumentou desde o inicio da pandemia, tendo-se mantido o número desde então.

Houve necessidade de reforçar o serviço de apoio domiciliário devido aos picos das vagas da covid-19?
O Serviço de Apoio Domiciliário presta apoio a cerca de 70 utentes. Mais recentemente com o aumento de casos na última vaga, tivemos necessidade de contratar mais colaboradores devido aos isolamentos, tarefa esta que não se tem revelado fácil pela escassez de profissionais no mercado.

A SCMS presta serviços a quantos utentes (institucionalizados e externos) no concelho de Sesimbra?
A SCMS presta serviço a 70 utentes em apoio domiciliário e a cerca de 70 em internamento, a 80 crianças em CATL e a mais de uma centena de carenciados.

O Serviço Nacional de Saúde (SNS) partilha algumas das vossas instalações: como tem decorrido essa parceria?
O SNS tem um contrato de arrendamento com a SCMS no espaço que ocupa o unidade de saúde familiar de Sesimbra. Temos conhecimento da construção das novas instalações para este unidade, aguardando que o espaço seja entregue à SCMS durante este ano.

A Santa Casa da Misericórdia de Sesimbra tem expandido as suas actividades, nomeadamente para Santana: como está a decorrer esse processo?
A SCMS cresceu nos últimos anos com a criação de novos serviços à comunidade. Surgiu em Santana um novo polo, em que existe o Gabinete Sant’Ana e o Serviço de Apoio Domiciliário (SAD). Num esforço de cumprimento do nosso Plano de Contingência, o SAD e o Gabinete de Apoio Alimentar têm atualmente a sua sede em Santana na Rua Augusto Machado. Geograficamente melhor colocado e com melhores condições de trabalho para colaboradores e utentes o gabinete foi inaugurado em julho de 2021, com uma simples bênção do espaço.
O Gabinete Sant’Ana iniciou o seu projeto em 2015 com o reconhecimento do prémio BPI Seniores, que possibilitou a instituição de criar uma sala de Snoezelen e consultas de psicologia. Foram entretanto disponibilizadas consultas de Terapia da Fala e de Acupuntura no espaço. Em 2020 fomos novamente contemplados com o Prémio BPI Seniores, com o qual foi criado gabinete de fisioterapia.
O Gabinete Sant’Ana cresceu nos últimos anos, através das parcerias existentes com a CPCJ e os centros de saúdes que reencaminham utentes para a psicologia e snoezelen e com a disponibilização de novos serviços à comunidade, todos com preços sociais.

A proteção dos utentes idosos contra a covid-19 deve ter sido um grande desafio para a vossa instituição: podem falar-nos um pouco sobre as medidas tomadas e os resultados?
A ameaça COVID aos nossos idosos e colaboradores representou um grande desafio para a SCMS, dos mais desgastantes e desafiantes para a gestão da instituição. Como em todo o mundo o vírus apanhou a instituição de surpresa, ameaçado por um inimigo completamente desconhecido para a ciência e para o mundo. De repente os lares e os idosos passaram a ser o foco das atenções. Felizmente a instituição conseguiu antecipar muitas das medidas que foram surgindo por indicação da DGS. Tornamos os lares estanques, vedados ao exterior. Foram implementadas medidas de desinfeção, vias de circulação, acessos condicionados aos utentes, testagem regular de utentes e colaboradores, no âmbito de um plano de contingência que conta já com 9 versões.
Foi deslocalizado o Serviço de Apoio Domiciliário para Santana, eliminando a “convivência” com o pessoal afeto ao cuidado dos idosos. Neste serviço foram implementados EPI’s e novas regras de trabalho, que permitiram não haver contagio colaborador/ utente. Num grande esforço toda a equipa da Misericórdia de Sesimbra tem conseguido excelentes resultados. A todos eles a Mesa Administrativa reconhece o “vestir da camisola”, o voluntarismo e a resiliência com que todos os dias enfrentam o inimigo invisível mas sempre presente.

Houve uma altura em que as visitas de familiares foram muito limitadas: como geriram esse período dificílimo que atravessamos?
Sim durante bastante tempo as visitas estiveram canceladas e durante algum tempo foram efetuadas à distância e por videochamada. Foram tempos muito difíceis em que contamos com a colaboração/ compreensão dos familiares e utentes que entendiam que só juntos podíamos vencer a pandemia. A instituição conta com uma equipa técnica composta por psicólogos, animador sociocultural, enfermeiros, medico, fisioterapeutas, acupuntor e assistentes sociais que conseguiram intervir durante os isolamentos com utentes e famílias e minimizar os seus efeitos. Igualmente os colaboradores que prestam cuidados aos utentes, com todo o seu carinho e dedicação, foram a sua família dentro da instituição.

Chegou a ponderar-se a colocação da imagem do Senhor das Chagas no altar que lhe esteve destinado durante alguns séculos: continuam a pensar nessa hipótese?
Os corpos sociais da instituição pretendem repor a originalidade da capela, estando no momento a elaborar algumas intervenções de recuperação de imagens e altares, em cumprimento de parecer da Comissão de Arte Sacra da Diocese de Setúbal e honrando todos os que contribuíram no passado para a construção do altar. Pretendemos igualmente tornar mais próximo o padroeiro dos seus crentes e revitalizar a fé ao Senhor Jesus das Chagas.

João Silva

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Director do jornal O Sesimbrense