Gisela João: “Nasci para viver o Fado”

Gisela João nasceu em Barcelos a 6 de Novembro de 1983 e é uma das melhores fadistas portuguesas da actualidade, reconhecida com os prémios Blitz, Time Out, Expresso, Público e o Globo de Ouro para a Melhor Intérprete Individual e o Prémio José Afonso 2014 e deveras apreciada em palcos nacionais e internacionais. Gisela começou a interessar-se pelo fado com 8 anos e entre os 16 e os 17 anos cantou na ‘Adega Lusitana’ em Barcelos. Em 2000 mudou-se para o Porto para estudar design e ali permaneceu seis anos cantando em mais uma casa de fados. Em 2009, e já em Lisboa, gravou um álbum com o grupo Atlantihda e foi um dos nomes convidados no disco do guitarrista Fernando Alvim intitulado ‘O Fado e as Canções de Alvim’ (2011). Entretanto, numa pequena casa na Mouraria lutou contra a solidão, pensou em desistir, mas resistiu. Conquistou Lisboa, das Casas de Fado à mítica discoteca Lux, e do Pequeno Auditório do Centro Cultural de Belém ao Teatro São Luiz. O ano de 2013 é de consagração, com a edição do seu disco de estreia: ‘Gisela João’, editado a 1 de Julho. Duas semanas volvidas o álbum alcançou o1º lugar no top de Vendas Nacional e que lhe valeu o Prémio Revelação Amália, com quem o seu talento já foi comparado muitas vezes. No final de 2015 actuou no São Luiz com os espectáculos ‘Caixinha de Música’ onde homenageou alguns dos intérpretes mais importantes, casos de Sergei Gainsbourg, Nick Cave, Bryan Ferry, Ella Fitzgerald, Amy Winehouse, Leonard Cohen e Violeta Parra, entre outros. Em 2016 editou ‘Nua’ (11/11) com letras de vários compositores como Carlos Paião, Alexandre O’Neill, Alain Oulmann, Capicua e o sambista Cartola. ‘Aurora’, editado em 9 de Abril de 2021, foi gravado entre Lisboa e Barcelona. É o primeiro da fadista só com canções originais e o primeiro com composições da sua autoria. Um disco intimista, que entrou directamente para o 1º lugar do top Nacional de Vendas. Nesse ano participou no álbum ‘Mirrors’, disco que junta Gisela João aos aclamados Becca Stevens, Louis Cato e os membros dos Snarky Puppy, Michael League e Justin Stanton. Os meses de Abril, Maio e Junho são preenchidos com nove actuações na Alemanha, intercaladas pelos concertos em Lisboa (13 de Maio, CCB) e em Sesimbra (28 de Maio, Cineteatro João Mota).

Pode-se dizer que nasceu para cantar o fado?
– Parece que sim… Melhor dizer, nasci para viver o fado, acho que é mais certo assim. O fado é muito mais uma forma de vida, há fado em muita coisa, há fado em muitas músicas, às vezes nem portuguesas são.

De Barcelos para o Porto e mais tarde para Lisboa. Quais as recordações que guarda desses anos passados?
– Em Barcelos fui menina, no Porto tornei-me Mulher, em Lisboa e no Mundo fui-me fazendo muitas mulheres.

Desde 2013 já saíram 3 álbuns e um videoclip/single. ‘Aurora’ marca a sua estreia como compositora. Esta opção é para manter no próximo álbum ou vai continuar a inovar?
– Espero continuar a fazer o que o meu coração diz para fazer. Parece simples mas não é! Todos os dias somos inundados com informação e com a pressão de fazer mais e melhor, o que é muito relativo… O que é mais? O que é melhor? É a quantidade? São os números que ditam as escolhas? Este tipo de questões são perigos no caminho de quem gosta e se propõe fazer arte. Manter o silêncio, cá dentro, onde ele deve estar, às vezes é complicado. Por isso digo, espero conseguir corresponder ao meu coração, às músicas que oiço na minha cabeça, que me fazem sentir viva e assim nesse caminho conseguir traduzi-las de forma a que todos as possam ouvir e sentir.

Nos dias que correm há muitas (e boas) vozes femininas no fado, mas o timbre da sua voz é único, aliado à qualidade das canções. Há quem a considere a grande fadista do século XXI.
– Pois… não sei o que responder, hehe… Talvez um sentido, Obrigada!

Como tem sido trabalhar com Justin Stanton e Michael League?
– Altamente inspirador. Trabalhar com pessoas tão talentosas e tão simples chega a ser emocionante de tão mágico que é.
As colaborações com outros artistas, como Paulo de
Carvalho, são para continuar?
– Todas as que me fizerem sentido vão acontecer. Orgulho-me muito das últimas com o Holly, o stereossauro, o Ride, o Xinobi, o Justin. Muito feliz em partilhar música com pessoas tão talentosas.

Prefere cantar nas Casas de Fado ou nos grandes anfiteatros, como os Coliseus de Lisboa e do Porto?
– Eu gosto de cantar onde a acústica me faz vontade, seja nas escadas de prédios, no meio da rua, no mercado… Cada lugar tem o seu contexto, eu gosto de cantar onde me querem ouvir.

Quais as ‘armas’psicológicas que usou para combater o
vazio criado pela pandemia?
– Usar as mãos o máximo possível, fazer tricot, costurar, bordar, fazer crochet… Criar com as mãos foi a minha salvação.

Tem outros géneros musicais que goste de cantar?
– Eu gosto de cantar, pronto. Gosto de cantar, amo cantar, é a minha vida.

Alguma vez imaginou que a Rússia invadisse a Ucrânia em 2022, setenta e sete anos depois do fim da II Guerra Mundial?
– Estava a acompanhar as notícias antes da guerra começar e andava bastante assustada com todos os indicadores, quando aconteceu percebi que ao mesmo tempo não achava possível que tal atrocidade fosse acontecer.

Alves de Carvalho

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Director do jornal O Sesimbrense