Joana Alegre: «O jazz foi a minha escola»

A cantautora Joana Alegre abrilhantou a festa alusiva aos 90 anos de vida do Santanense, actuando no Cineteatro Municipal João Mota, em Sesimbra. A artista
nasceu em 1985, em Lisboa, e desde muito cedo que a música fez parte da sua vida. Joana começou por estudar guitarra na Academia Duarte Costa e mais tarde voz, guitarra e piano complementar no Hot Clube de Portugal, tendo feito ainda um curso de Varão na New School for Jazz and Contemporany Music, em Nova Iorque, cidade onde viveu algum tempo. Filha do escritor e político Manuel Alegre herdou um apelido muito forte da cultura portuguesa. A cantora é licenciada em Ciências Políticas e Relações Internacionais e mestre em Comunicação, Cultura e Tecnologia de Informação.

Em Fevereiro de 2008 ficou em 4o lugar no Billboard World Songwritting Contest com a canção Tribute To M, interpretada por Joana Melo e em 2010 integrou o Melhor Combo que foi premiado na Festa do Jazz no Teatro São Luiz, em Lisboa. Em 2011 lançou o seu primeiro disco de originais, intitulado The Pulse, onde sobressai como cantora e autora de letras. A artista tem-se afirmado como cantautora de indie e soul e também como vocalista de jazz e gospel, integrando o Coro Gospel Collective e em 2016 lançou o álbum ‘Joan & The White Harts’ com canções em inglês e português e que conta com diversas parcerias com Mikkrl Solnado, Mimicat, Gospel Collective e Jota Erre. Em 2019 foi semi-finalista no International Songwritting Competition com o tema ‘Vast’. Está agora a preparar o seu próximo álbum, que tem Luísa Sobral como produtora. Em Abril de 2021 mostrou uma música sua através do seu canal de YouTube, apresentando-a como o seu primeiro liric-video: ‘Dragão’.

O jazz é a sua marca de referência na música, tanto em Portugal como nos EUA. Os estudos de jazz foram uma mais valia na sua educação musical, primeiro no Hot Club, depois em Nova Iorque com músicos como Theo Bleckmann, Steve Coleman ou Aaron Goldberg. Ao longo do tempo foi-se afirmando como cantautora de indie e soul e também como vocalista de jazz e godspel e em 2016 lançou o álbum ‘Joan&The White Harts’ com canções em inglês e português e que conta com vários parceiros, como Gospel Collective, Mikkel Solnado, Mimi cat e Jota Erre. Sente-se mais confortável a cantar em qual dos dois idiomas?
Comecei os meus estudos na música através da guitarra clássica, mas o jazz foi a minha escola para me profissionalizar e dar um salto qualitativo ao nível do conhecimento teórico prático dos instrumentos, na composição e na interpretação também. A passagem pelo gospel ajudou certamente a encontrar a potência da voz e do colectivo, a conectar-me com o lado mais essencial e espiritual até da música. Hoje em dia não me enquadro na cena musical do jazz, sou uma cantautora que bebe destas várias fontes,nomeadamente do nosso folclore tradicional, que esteve sempre presente, e julgo que a estética que se tema firmado mais em mim, é certamente uma mescla de neo folk e baroque pop. Sinto-me confortável tanto no inglês como no português, mas desde o último álbum que a minha prioridade tem sido cantar na nossa língua mãe.

O seu último álbum foi produzido pela Luísa Sobral. O jazz pesou neste trabalho ou enveredou por outros caminhos?
O álbum Centro, produzido pela Luísa Sobral, foi lançado em Outubro passado de 2021. O Jazz uniu-nos na escola da vida, mas conforme já mencionado acima, o estilo deste álbum apresenta já de forma consolidada uma identidade própria, misturada de várias fontes mas essencialmente neo folk nos temas mais acústicos e intimistas, e baroque pop nos arranjos mais arrojados e completos, mantendo sempre a componente do foclore, por exemplo na presença do violino e da harpa, ukelele e, sobretudo, nos arranjos rítmicos, inspirados na nossa tradição.

Qual é o balanço que faz do seu mandato como deputada independente na Assembleia Municipal de Lisboa, eleita pelo Movimento Cidadãos por Lisboa?
Estive sempre de alguma forma, e enquanto independente, ligada a causas. Estarei sempre que a minha consciência a isso obrigar. A passagem pela Assembleia Municipal de Lisboa foi, sem dúvida, enriquecedora, mas de certa forma acabou por ser também uma desilusão ao nível do curto alcance que enquanto deputada independente se consegue ter, e também ao nível do grupo que integrei, que a meu ver foi alterando as suas bandeiras, negligenciando e abandonando importantes linhas de acção e conquistas de um legado de processos participativos, que até então havia sido consolidado.

Filha do escritor e político Manuel Alegre, que foi candidato à presidência da República, até que ponto isso não influencia o seu percurso enquanto artista e cidadã?
Certamente todos somos influenciados pelos nossos pais e família, de várias formas. Tenho muito orgulho no meu pai e sou profundamente inspirada no seu exemplo, nessa medida sei que influenciou e continua a influenciar a minha sensibilidade artística e gosto pela cultura. Enquanto cidadã fica certamente o seu exemplo de coragem e a urgência de dever fazer e lutar pelos princípios em que acredito, mais ainda quando o caminho é incerto e difícil.

O que significa para si o espectáculo ‘Um Só Dia’ de homenagem ao poeta Manuel Alegre, 85 anos e sempre na linha da frente contra o fascismo e qualquer totalitarismo?
O meu pai é um dos poetas portugueses mais cantados e musicados de sempre, muitos dos temas com poesia sua fazem parte da nossa história e memória colectiva, são temas transversais que devem continuar a atravessar o tempo e manter-se presentes na nossa contínua construção. Durante a pandemia e nos confinamentos, surgiu a vontade de organizar uma devida e merecida homenagem do sector da música, como forma de celebrar o seu exemplo de vida e a sua poesia, uma vontade que foi amplamente acolhida e materializada no que julgo ser um espectáculo que ficará para as gerações futuras, e veio assim enriquecer a nossa cultura.

O surf e a paixão pelo mar ainda são importantes na sua vida? E a família, obviamente.
Serei sempre do mar e o surf é fundamental para me manter ligada às forças maiores que nos regem, a família é o porto de abrigo e inspiração constante.

O seu pai é fã de futebol e do Benfica em particular. Comunga do mesmo entusiasmo?
Já comunguei! Hoje em dia mantenho-me benfiquista, mas já não sigo futebol assiduamente como quando era criança.

Alves de Carvalho

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Director do jornal O Sesimbrense