O sol brilhava envergonhado e o sino da igreja dava conta de que batiam as nove horas da manhã. Começava mais um dia de trabalho, mais um dia de verão, mais um dia de sorte, de gratidão.
Enquanto cruzava a entrada com outros colegas e distribuía “Bons dias” a cada um que passava, eis que uma voz me despertou e me sintonizou. Enquanto todos caminhávamos dissertava-se sobre a forma como o corpo reage ao stress e de imediato fiquei de “orelha no ar”.
Segundo o descrito no Relatório Mundial de Saúde Mental da OMS: Transformando a Saúde Mental para Todos, que foi apresentado em junho de 2022, quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019. O que faz imediatamente pensar nos dados que irão ser espelhados no próximo relatório…
Negligenciar a Saúde Mental, é negligenciar o futuro.
Em 2019, a Organização Mundial de Saúde e os 194 Estados-membros da organização assinaram a prorrogação do Plano de Ação Integral de Saúde Mental até 2030, que na sua versão inicial se encetou em 2013 e terminaria em 2020. Este plano de ação marca o reconhecimento oficial da relevância da saúde mental, potencializando a metamorfose global de direção da saúde mental.
Dadas as exigências atuais do mundo do trabalho e a sustentabilidade apresentar-se hoje, como um princípio basilar da gestão inteligente, evidencia-se como imperativa a intervenção na gestão dos riscos psicossociais, considerando este um problema de Saúde Pública e de concertação social. A avaliação dos riscos psicossociais e a adoção de medidas que permitam preveni-los, pode beneficiar não só os trabalhadores, mas também os empregadores (por exemplo, aumento do compromisso, da motivação e satisfação com o trabalho; aumento da produtividade; menos tempo de trabalho perdido devido ao absentismo e respetiva redução de custos).
No decorrer do nosso dia-a-dia, muitos inconvenientes podem surgir na realização das atividades laborais. As situações de stress, de depressão, de ansiedade ou de burnout são narradas cada vez mais por um número expressivo de trabalhadores, a nível mundial, o que pode originar momentos de crise ou desespero.
Abraçar a Saúde Mental, podia ser um slogan… não obstante, para além de palavras, a conjetura implora que se passe à ação, ação diária. Isto é, um compromisso global, um trabalho em rede e em parceria, preconizando uma conspeção do desenvolvimento como responsabilidade partilhada, de todos e para todos!
As questões relativas à sustentabilidade na dimensão social, à gestão dos recursos humanos nas organizações e à sua relação com a promoção da saúde psicológica no trabalho traduzem-se em ganhos efetivos na promoção de locais de trabalho saudáveis.
E também o Zé, nome fictício do colega com que me cruzei naquela bonita manhã, é promotor de saúde no seu local de trabalho. “Porquê?” Vão já perceber.
Prosseguíamos a nossa caminhada, quando em jeito de despedida o Zé, com um sorriso esboçado no rosto, continuava: “E é assim a vida, temos tudo, temos mesmo tudo. Então, bom dia de trabalho.” Com uma dúzia de palavras, o Zé conseguiu criar uma emoção positiva nas pessoas que naquela manhã o acompanhavam.
Neste campo de estudos, uma das principais investigadoras que se destaca neste propósito e com elevada relevância, chama-se Barbara Fredrickson e é diretora do Laboratório de Emoções Positivas e Psicofisiologia da Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos da América. Com base nos seus estudos, Fredrickson identificou as dez emoções positivas que costumam ser expressas e sentidas com mais frequência pelas pessoas: alegria, gratidão, contentamento (ou serenidade), interesse, esperança, orgulho, sensação de divertimento, inspiração, êxtase e amor.
A interação de emoções num grupo de trabalho requer um discurso interno positivo, apreciar e encorajar os outros cultivar uma visão positiva, ter energia positiva, ter iniciativa e não se autolimitar. Assim pode-se surpreender um ou vários colegas e em contrapartida refletir-se-á uma atitude de gratidão e reconhecimento. Emergem desta ação, colegas mais dinâmicos, motivados e mais preparados para recriar emoções positivas.
A gestão e avaliação dos riscos psicossociais constitui não só uma obrigação moral e um bom investimento para as entidades empregadoras como também um imperativo legal. No entanto, é essencial garantir também o envolvimento dos trabalhadores. Se estiver a sentir exaustão emocional, despersonalização/desumanização, baixa realização profissional, problemas físicos (problemas gastrointestinais, taquicardia, sensação de falta de ar, alterações do sono e do apetite), problemas emocionais (tristeza, apatia, anedonia, alienação, frustração, raiva/ revolta, tédio, desesperança), problemas cognitivos (problemas de concentração e atenção, confusão, maior lentidão na realização de tarefas, menor criatividade), problemas comportamentais (comunicação impessoal, atitude crítica, impulsividade, reatividade, agressividade), problemas sociais (isolamento, relações distanciadas ou com menor envolvimento e empatia), problemas existenciais (conflitos de valores e crenças, necessidade de redefinir a vida e as prioridades pessoais, raiva e revolta) ou problemas laborais (atrasos, absentismo, baixas médicas, turnover, maior número de erros no trabalho), procure ajuda!
Contate um Psicólogo ou em alternativa, contate o seu Médico de Família e peça-lhe que lhe referencie um Psicólogo ou ligue para a Linha de Aconselhamento Psicológico do SNS24. Se um colega se sente assim… mostre-se disponível para o escutar, incentive-o e apoie-o a procurar ajuda junto de um Psicólogo. Se por outro lado, for um empregador e os seus colaboradores se sentem assim… incentive e apoie os colaboradores a procurarem ajuda junto de um Psicólogo. Planeie um programa de regresso/readaptação ao trabalho, após ter sido ultrapassado o problema de Saúde Psicológica e construa um Local de Trabalho Saudável para os seus colaboradores. Um Psicólogo pode ajudá-lo!
Com o aumenta exponencial de tudo, esperemos que aumente verdadeiramente a nossa capacidade de resiliência, de adaptação, o nosso poder de transmutação, a nossa capacidade de interação e cooperação com os demais. Às competências referidas, somamos à equação a solidariedade, a atenção, a preocupação e o enfoque na consciência social e nos valores coletivos.
E em jeito de conclusão, permitam-me (re)significar o “SE”, não na sua função de conjunção subordinativa condicional, que conforme se subentende pelo nome, indica a existência de uma condição para que algo ocorra, mas na sua vertente absoluta, independente, incondicional, integral e total. Que o “SE” seja a semente a germinar em cada coração: Seja empático e Escute os outros!
Zé tens toda a razão, realmente temos tudo! Que bom é saber que a tua positividade amanhece todos os dias com o sol.
Que os “Zés” sejam a catálise da mudança. E já diria Mahatma Gandhi: “Que sejamos a mudança que queremos ver no mundo.”
Inês Lopes Reis
Técnica Superior de
Segurança no Trabalho