Cardeal Tolentino de Mendonça nomeado “ministro” da Santa Sé

Um português acaba de ser nomeado “Ministro” da Educação e da Cultura da Santa Sé: o Cardeal Tolentino de Mendonça

A nomeação teve lugar no Vaticano este 26 de Setembro.

Para percebermos o valor desta nomeação, vamos considerar três tópicos: (1) quem é o Cardeal Tolentino, (2) que significa hoje ser “ministro” da Santa Sé, e (3) o “Pacto Educativo Global” do Papa Francisco, citado na atual cimeira da ONU “Transformar a Educação”.

O Cardeal Tolentino nasceu em Machico, Funchal, Ilha da Madeira, a 15 de Dezembro de 1965. Poeta, ensaísta e investigador, autor de numerosos livros, artigos e conferências, é doutorado em Teologia Bíblica. Foi ordenado padre em 1990 e bispo em 2018. É cardeal desde outubro de 2019.
Em Portugal foi vice-reitor da Universidade Católica (UCP) e responsável pela Pastoral da Cultura da Conferência Episcopal Portuguesa.
Desde 2018 era Arquivista e Bibliotecário no Vaticano. Agora, como Prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, vai passar a ser uma espécie de “ministro” da Educação e Cultura do Vaticano, ficando com a tutela da rede escolar católica do mundo inteiro – que inclui 1.360 universidades católicas e 487 universidades e faculdades eclesiásticas, num total de 11 milhões de alunos, mais 217 mil outras escolas, frequentadas por 62 milhões de crianças.
No novo cargo, o Cardeal Tolentino ficará também responsável pelo diálogo da Igreja universal com o mundo da cultura, coordenando as atividades de inúmeras Academias Pontifícias, como a de Belas Artes e Letras, a de Arqueologia, ou a de Teologia, entre outras.

O Dicastério da Educação e Cultura resulta da reforma da Cúria Romana, promovida pelo Papa Francisco. E este é o nosso segundo tópico. Em que consiste essa reforma?

A 5 de Junho de 2022, solenidade de Pentecostes, o Papa Francisco renovou radicalmente a constituição da Cúria Romana (Governo do Vaticano) com uma nova constituição, chamada Praedicate Evangelium (“Anunciai o Evangelho”).
Como diz o preâmbulo desta nova constituição, a reforma da Cúria Romana «não é um fim em si, mas um meio de dar um forte testemunho cristão, de promover uma evangelização mais eficaz, um espírito ecuménico mais fecundo, de encorajar um diálogo mais construtivo com todos».
O seu objetivo é pôr mais ênfase na evangelização, em particular, uma abordagem missionária da Cúria para que esta esteja ao serviço do Papa, da Igreja e do mundo.
Abre, para isso, uma ligação direta dos seus dicastérios com as Conferências Episcopais, para valorizar a dimensão sinodal e favorecer uma “sã descentralização” de algumas competências, permitindo aos Bispos diocesanos ter acesso às questões que conhecem de perto.
Destaca a opção preferencial pelos pobres, a proteção dos menores e das pessoas vulneráveis, criando um Dicastério para o Serviço da Caridade.
Introduz na Constituição da Cúria os órgãos económicos e jurídicos…
Cria o Dicastério para o Desenvolvimento integral do homem, com uma secção para os migrantes e os refugiados; outro Dicastério para os Leigos, a Família e a Vida; e agora este Dicastério do Cardeal Tolentino, para a Educação e a Cultura…
O Dicastério da Evangelização é presidido diretamente pelo Papa, mas abre a possibilidade a todos os batizados, incluindo os leigos, de exercerem funções governativas na Cúria, sem excluir as mulheres.

E, para melhor contextualizar a nomeação de Tolentino, chegamos ao terceiro tópico: o secretário-geral da ONU acaba de convocar a Cimeira “Transformar a Educação”, justificando-a:

“Num momento de desinformação desenfreada, negação climática e ataques aos direitos humanos, precisamos de sistemas educativos que distingam factos de conspiração, incutam respeito pela ciência e celebrem a humanidade em toda a sua diversidade”, disse António Guterres na sua conferência.
Esta Cimeira antecedeu o debate entre chefes de Estado e de Governo dos 193 países membros, na 77.ª sessão da Assembleia Geral da Nações Unidas.
Participante nesta Cimeira, o Cardeal Pietro Parolin, secretário de Estado do Vaticano, afirmou que é «cada vez mais urgente» um pacto educativo global. Lembrou que o Papa lançara um ‘Pacto Educativo Global’ em outubro 2020, com investigadores e professores de várias áreas, e o processo de implementação deu origem a novas iniciativas a nível continental e local.
Então Francisco dissera: “A educação é uma das formas mais eficazes de tornar o nosso mundo e a nossa história mais humanos”, e convidara as organizações educativas no mundo a rever os seus projetos e currículos, empreendendo sete percursos precisos que têm como objetivo final tornar a educação “realmente integral, superando as dicotomias entre seus aspetos cognitivo, emocional e ético”.
O Papa Francisco e António Guterres têm clara noção da gravidade do problema e da via para a sua solução. É neste contexto mundial que o Cardeal Tolentino é chamado… Hoje ele sabe, felizmente, que a Igreja já iniciou um processo sinodal, que o pode ajudar muito. Mas este tema fica para uma próxima vez…

Mª Silvina Palmeirim

Anuncio Bottom

About the Author

Editor
Director do jornal O Sesimbrense