Jonas Farinha

Jonas Pinto Farinha nasceu em Sesimbra, a 10 de Março de 1941. Ó seu pai, Ângelo Sobral Farinha, foi pescador e também um notável artesão que construiu diversos modelos de barcos, muitos dos quais pertencem hoje ao Museu Marítimo de Sesimbra.

Jonas Farinha nasceu na rua Amália (hoje rua 2 de Abril), que nesse tempo não era calçada nem asfaltada; quando chovia tornava-se barrenta e foi assim que começou a fazer os primeiros bonecos com o barro que apanhava na rua. E quando ia para a armação com o pai, este fazia-lhe pequenos barcos com palmeiras, com velas, com que brincava à beira de água.
Mais tarde começou a ajudar o pai nos modelos que este construía, mas preferiu seguir o seu próprio estilo, destacando-se na construção de presépios, na decoração de ruas e montras, e também na factura de maquetes.

Hoje é possível ver e comprar alguns dos seus trabalhos na sala de exposições que mantém na rua Bartolomeu Dias: ali encontramos, por exemplo, uma maquete da escola Conde Ferreira, onde ele próprio estudou, com a professora Dona Paula. Ali também está uma minuciosa maqueta de um paquete, construído pelo pai – e em cuja construção Jonas também participou – onde são visíveis camarotes com as respectivas mobílias e passageiros. Uma reprodução da imagem do Senhor Jesus das Chagas, com o arranjo de flores feito para a Festa das Chagas, é outro dos minuciosos trabalhos de Jonas Farinha.


Maqueta da Escola Conde Ferreira

Primeiros prémios

Jonas Farinha começou a fazer artesanato aos seis anos, aprendendo com o pai, mas cedo se destacou: quando tinha uns 13 ou 14 anos, realizava-se em Sesimbra um concurso para jovens, de presépios, que eram instalados na Vila Amália; e havia outro concurso para os presépios que cada família fazia na sua própria casa: “Eu nesse ano ganhei o primeiro prémio dos jovens e o primeiro prémio da vila.” Foi o primeiro de vários prémios que ganhou ao longo da vida: “Houve um concurso de ruas, pela Páscoa, com montras enfeitadas, e eu coloquei uns manequins sentados a uma mesa, com amendoeiras em flor e nesse ano tirei o 1º prémio do distrito de Setúbal”.

Trabalho duro

Este trabalho de artesanato acumulava com o trabalho para ganhar o sustento. Quando ganhou os referidos primeiros prémios com presépios, já trabalhava na loja do Adelino. Mas já antes disso, com uns 8 anos, ajudava o pai transportando selhas com os apetrechos de pesca.

O pai trabalhou em várias ates de pesca: desde o aparelho de anzol até às armações Burgau e Ilhéu. O seu pai, Ângelo Sobral Farinha, tinha ficado órfão de pai e mãe aos 8 anos, e foi para o mar nessa mesma idade. Depois trabalhou na armação: andou no Burgau e no Ilhéu.

Jonas Farinha recorda: “O meu pai andou na barca do Artur Soromenho e, numa época em que havia menos peixe em Sesimbra, a barca foi para Cascais e nós fomos todos com ele: dormíamos numas tarimbas. Depois quando a barca veio para Sesimbra, as famílias vieram todas de comboio e de camioneta, mas o meu pai pegou em mim e trouxe-me na barca. Quando chegámos perto do Cabo Espichel, a ondulação era demais, senti-me agoniado e fui para a cabine. Nessa altura perguntei: Pai, ainda falta muito para chegar a Sesimbra?

Depois o meu pai andou no Manel Jacinto, que era o cunhado, onde esteve muitos anos, como motorista – nunca nenhum barco veio empanado, porque ele sabia desmontar os motores e montava de novo, sabia arranjar tudo. Depois esteve na “Josefino Pinto”, com o Vitoriano – os donos moravam na Fonte Nova. A “Josefino Pinto” ainda teve a loja onde hoje estão os Escoteiros que é no edifício do Jorge Amaro. Depois foram para o Ribeiro, em frente ao que é hoje a sede do Benfica, que era o Roquete, e depois ainda fomos para o ribeiro da Fonte Nova, mesmo lá para o fundo. O meu pai andou às redes também e chegou a andar aos covos, e eu andei aos covos, ao marisco, também com ele”.

Presépios

Uma das maiores mágoas de Jonas Farinha prende-se com o grande presépio que chegou a montar, quer no auditório Conde Ferreira quer na Sociedade Musical Sesimbrense. Obra impressionante que atraía pessoas de fora a Sesimbra: “Loures quis-me comprar o presépio, tal como Oeiras”, mas Jonas Farinha acabou por acordar a sua venda à Câmara de Sesimbra. Apesar de ter estado tudo combinado, o processo não correu bem: “Não quiseram pagar o valor que tinha sido combinado com o próprio presidente da Câmara”. Acabou por ser vendido a um particular, e o presépio foi levado para a Maçã, onde tem estado numa garagem e nunca mais foi montado: “Deve estar tudo estragado”.
Jonas Farinha lamenta que se esteja a perder a tradição da montagem de presépios, quer em casa, quer para exposição ao público: “Já têm vindo pessoas de fora para ver o presépio, e não encontram: é uma vergonha”.

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Director do jornal O Sesimbrense