Luís Simão Rafael, nascido há 54 anos em Santana da Serra, no concelho de Ourique, veio para Sesimbra com oito meses. Recorda que começou a brincar à pesca na antiga doca, gostou, e aos 16 anos navegou pela costa de Marrocos, durante quatro anos, na embarcação “Vontade de Vencer”, na pesca polivalente, ou seja, em várias artes. Salienta que sem o apoio da família seria muito difícil a sua profissão de pescador, porque por vezes estava dez dias ou mais fora, mas agora vai para a faina de madrugada e regressa pela tarde.
Há mais de três décadas (35 anos) que é mestre e armador, confessa que se sente bem – “sinto orgulho em mim e nos meus colegas” pelo trabalho realizado pela companha da embarcação “Armindo José” na pesca polivalente e costeira. Atualmente a embarcação opera na zona económica exclusiva de Portugal, entre o cabo de Sines e o cabo da Roca. Afirma que é “um orgulho muito grande ser pescador” e que quando deixar de estar no ativo e se retirar, não terá continuação, porque é pai de duas filhas que seguirão outros caminhos.
No seu palmarés conta já com 8 distinções, entre as quais, a maior captura de pescada a nível nacional e um primeiro lugar em vendas na lota de Sesimbra.
O jornal O Sesimbrense foi conhecer Luís Simão e a sua história de vida.
Sempre quis ser pescador ou gostaria de ter tido outra profissão?
Gosto de ser pescador, foi uma profissão que não me arrependo de ter escolhido. Apesar de ter os seus contras, não há nada como o mar. Apaixonei-me por ele e pela grande sensação de liberdade desta vida.
A sua família tem raízes na pesca?
Não.
Poderá enumerar os nomes e as respetivas datas das embarcações que já teve?
A primeira embarcação foi a “Francisca Rosa” de 1987 a 1993, a segunda “Luz do Talismã” de 1993 a 1997, a terceira “Dragão do Neiva” de 1997 a 2007 e por último “Armindo José” de 2007 até ao presente.
Quantos homens tem a cargo?
Atualmente e, por norma, oito a nove homens.
Como se viveu na pesca durante a pandemia do covid-19?
Nada fora do normal na pesca, com altos e baixos no valor do pescado. Exceto pelo meio, o coronavírus alcançou toda a tripulação e tivemos que parar uns dias por causa do isolamento.
Com a evolução das novas tecnologias aplicadas às pescas, a profissão de pescador/armador tornou-se mais fácil ou não? Quais são os principais requisitos?
Foi facilitada, principalmente para algumas artes. O problema maior é o valor do pescado na primeira venda, devido ao aumento dos combustíveis e das artes de pesca, e as imposições da captura. Sem ajudas do Estado, o setor da pesca sofre muito.
A profissão de pescador continua a ser de alto risco, não obstante o aumento da segurança e das condições de trabalho existentes a bordo. Como encara essa evolução?
Todas as melhorias nas condições de trabalho são bem-vindas, tanto para os trabalhadores como também para a segurança da embarcação. Mas não nos podemos esquecer que trabalhamos no meio do mar, que não é um terreno estável, não está parado. Como tal, a segurança deve ser sempre priorizada.
O setor das pescas continua a ser atrativo para as novas gerações ou já há necessidade de contratar imigrantes para garantir a sustentabilidade a curto/médio prazo?
Do meu ponto de vista, para ser pescador, como em todas as profissões, é preciso gostar do que fazemos, mas principalmente gostar do mar e respeitá-lo. É uma profissão de risco e há que saber valorizá-la. Eu amo ser pescador, apesar de nem sempre correr como nós queremos ou planeamos, mas é como em tudo na vida. Para mim continua a ser atrativa mas há que ter atenção, é uma profissão cada vez mais dependente de imigrantes, devido à carga horária um pouco mais elevada que noutros trabalhos e ao facto do salário depender muito da venda do pescado. É compreensível não haver tantos jovens para área da pesca, daí a necessidade de contratar trabalhadores imigrantes. No meu barco, e em muitos barcos, dependemos de imigrantes para trabalhar.
João Silva