Novos dados sobre os dinossauros do Espichel

No final do ano passado foi publicado, na revista científica Internacional Historical Biology, mais um artigo científico sobre a paleontologia do Cabo Espichel: “Ornithopod dinosaur remains from the Papo Seco Formation (lower Barremian, Lusitanian Basin, Portugal): a review of old and new finds: Historical Biology: Vol 0, Nº 0)).
O primeiro autor deste estudo é o paleontólogo Silvério Figueiredo (Professor do Instituto Politécnico de Tomar e investigador do Centro Português de Geo-história Pré-História e do Centro de Geociências da Universidade de Coimbra) e trata-se de um trabalho de revisão dos restos fósseis de dinossauros ornitópodes (grupo de dinossauros herbívoros, de média a grande dimensão, em que uns eram bípedes e outros quadrúpedes, e nos quais se incluem dinossauros como os iguanodontes ou os hadrossauros. Foram um grupo que se diversificou muito no Cretácico e que sofreu várias revisões da sua taxonomia, nos últimos anos). O trabalho agora desenvolvido por Silvério Figueiredo e colegas incidiu sobre um conjunto de fósseis (dentes e ossos) já descritos anteriormente e que estão nas coleções do Museu Geológico (MG) e do Museu de História Natural e da Ciência (MUNHAC), em Lisboa, e sobre outros restos recentemente descobertos, que estão na coleção do Centro Português de Geo-História e Pré-História (CPGP) e que foram encontrados pela equipa de investigação liderada por Silvério Figueiredo, que há 23 anos tem desenvolvido vários trabalhos de investigação nas formações geológicas do Cretácico Inferior (período geológico, que vai dos cerca de 145 aos cerca de 100 milhões de anos), localizadas a norte do Cabo Espichel. Estas formações estão atribuídas à idade do Barremiano (cerca de 129 milhões de anos), sendo que os fósseis estudados são também dessa idade.
Este trabalho conclui que estes fósseis pertenceram a diferentes indivíduos, uns de grande dimensão e outros de dimensão mais pequena, e a diferentes espécies, aferindo assim que no Barremiano do Cabo Espichel, este grupo de dinossauros era diversificado. Por outro lado, permitiu também concluir que os fósseis que têm sido atribuídos à espécie Iguanodon manteli ou ao género Mantellisaurus, em trabalhos anteriores, pelo seu estado de preservação, muito fragmentário, ou pelas características preservadas, apenas permitem confirmar a presença de grandes ornitópodes, do subgrupo Styracosterna, do tipo iguanodonte, mas não permitem confirmar a presença das espécies atrás referidas.
Segundo Silvério Figueiredo, a grande novidade deste trabalho é precisamente a identificação de diferentes dinossauros ornitópodes naquela formação geológica, demonstrando uma diversidade deste grupo, tal como acontece em formações do mesmo período em Espanha, ao contrário do que acontecia até agora, em que apenas era reportada a ocorrência dos géneros Iguanodon e Mantellisaurus ocorrências essas, que, como foi referido, não é possível confirmar no Cabo Espichel. Novos trabalhos, em especial do conjunto esquelético (pós-craniano) descoberto há poucos anos na Boca do Chapim e que se encontra em fase final de estudo, permitirá obter dados mais concretos acerca deste grupo de dinossauros e, possivelmente, atribuir uma classificação mais específica.
O autor deste estudo realça que estes trabalhos têm sido realizados por uma equipa multidisciplinar e internacional, com investigadores de várias universidades e instituições de investigação de Portugal, Espanha e Brasil e têm sido suportados apenas pelo Centro Português de Geo-História e Pré-História (CPGP) e pelo Centro de Geociências da Universidade Coimbra.

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Director do jornal O Sesimbrense