Sesimbra já acolheu 50 famílias ucranianas

Na sequência da invasão da Ucrânia pela Rússia, e segundo informação que nos foi fornecida pela Câmara Municipal de Sesimbra, no âmbito do serviço de apoio ao imigrante já foram atendidas cerca de 50 famílias ucranianas, o que corresponde aproximadamente a 135 cidadãos, maioritariamente mulheres e crianças.
Muitas destas famílias estão alojadas em casas de familiares ou amigos. Outras conseguiram alugar casa temporariamente e existem ainda alguns casos de munícipes que disponibilizaram as suas casas para acolher estes cidadãos, dando o seu total apoio.
Já foram integradas nos mais diversos estabelecimentos de ensino do concelho públicos e privados, cerca de 30 crianças.
Alguns destes cidadãos também já se encontram a trabalhar na área da restauração/hotelaria em empresas do concelho.
A Câmara Municipal tem criado algumas iniciativas que promovem a integração destes cidadãos, com o apoio de uma rede de parcerias informais, como as IPSS, associações e o comércio local através da AHRESP.
Foi igualmente criado um grupo de voluntários constituído por cidadãos ucranianos que já residiam no concelho há alguns anos e que têm feito a ponte entre a comunidade e os serviços, sendo este um apoio fulcral para a inclusão destes cidadãos. Com a ajuda deste grupo todas as semanas são realizados encontros que promovem a partilha entre a comunidade e já foi realizada uma missa em Ucraniano.
Também já estão a decorrer cursos de Português em parceria com o CREF, em regime on-line e teve inicio na semana passada um curso presencial financiado pelo Instituto do Emprego, com 22 participantes.

Lilia Prymak: “falta de cooperação internacional”

Lilia Prymak veio muito jovem para Sesimbra, apenas com 10 anos, para se juntar à mãe, Sofyia Primak, que tinha imigrado 5 anos antes. Aqui concluiu os estudos, durante os quais se iniciou no voleibol, onde brilhou, tendo integrado mais tarde a equipa do Belenenses. Já em 2013 Lilia Prymar tinha dado uma entrevista ao nosso jornal, focando a sua integração em Sesimbra; agora voltámos a convidá-la para nos falar da actual crise de refugiados do seu país de origem.

De que zona da Ucrânia é natural?
Sou natural de Rivne, cidade que fica a cerca de 341 km de Kiev, antes da invasão pedi aos meus familiares para virem para cá, mas eles recusaram essa hipótese disseram que iam ficar para combater e defender o pais.

Qual a sua opinião sobre a invasão russa e guerra na Ucrânia?
Na minha opinião a guerra na Ucrânia veio a demonstrar ao mundo inteiro a falta de cooperação internacional, a falha trágica da ONU e que estamos perante a 3ª guerra mundial, porque esta infelizmente está a ser financiada pela Europa, não podemos esquecer-nos que a Rússia em 2020 foi o 3º maior país de exportação de carvão do mundo, neste momento é a maior potência de exportação de paládio /gás/trigo/alumínio do mundo.
As organizações internacionais têm que entender que pouco ou nada as sanções que já foram aplicadas ou as futuras irão afectar a economia /exportação /crescimento do país invasor.
Neste momento crítico que vivemos é necessário o envio de armas, munições, equipamentos de protecção, equipamentos médicos a Ucrânia.

Qual a sua opinião sobre a solidariedade dos outros países?
Penso que cada pais está a ajudar com tudo o que pode, por exemplo na Noruega foram enviadas para a Ucrânia 4 ambulâncias, mais 4 camiões com comida, roupa, material de protecção para os militares que estão a combater, a minha prima que vive na Noruega diz que os noruegueses estão a ajudar e a colaborar intensamente, mesmo na recepção dos refugiados que foram criadas todas as condições para os mesmos.
Aqui em Portugal também, não tenho palavras para agradecer a todos os que me ligaram, fizeram donativos, trouxeram imensos bens que foram enviados para a Ucrânia, agradecer em especial a Rosa Costa e aos proprietários da gelataria Marina Gourmet que ajudaram imenso na doação de bens para os refugiados.
Os portugueses demonstraram mais uma vez a sua solidariedade!

Têm contacto com os refugiados ucranianos como está a correr a sua adaptação?
Sim desde o início da guerra que tenho feito voluntariado para ajudar a Ucrânia, na semana passada vieram alguns refugiados e temos estado a contactar algumas universidades que irão lecionar os cursos de aprendizagem da língua portuguesa grátis em Lisboa, tenho estado a ajudar-lhes a inscrever, ajudar na procura de emprego, inscrição na segurança social entre outras coisas.
Onde têm mais dificuldades é na comunicação, porque são línguas completamente diferentes, mas pouco a pouco vão aprendendo.
Quando chegaram foi um misto de emoções entre alegria e tristeza, porque deixaram os familiares na maior parte homens das famílias, que ficam para trás a combater, mas com algum sentimento de alegria e alívio porque estão em segurança com os filhos, não ouvem constantemente os bombardeamentos, mas que finalmente conseguiram sair do caus.
De referir que vêm com imensos traumas do horror que viveram, da crueldade que foram vivendo, da perda dos familiares que foram assassinados
O feedback na maior parte das famílias está a ser muito positivo, gostam de estar cá e estão a adaptar-se muito bem.
Em 2005 quando os meus pais me trouxeram para cá, também tive alguma dificuldades na aprendizagem da língua portuguesa, entretanto quando do iniciei o meu percurso escolar, a minha mãe fez questão de contratar uma explicadora, que era excelente mesmo: ensinou-me a falar corretamente português a gramática e fez com que as minhas notas fossem boas na escola, fica aqui um agradecimento a Guadalupe Jesus.
João Augusto Aldeia

Anuncio Bottom

About the Author

Editor
Director do jornal O Sesimbrense