Dinossáurios do Espichel

No passado dia 26 de março pp, a sala polivalente da biblioteca municipal de Sesimbra, foi palco da palestra dedicada ao tema sobre as pegadas de dinossáurios e de crocodilomorfos do Cretácio Inferior do Espichel.
A conferência promovida pelo Rotary Club de Sesimbra, contou com a presença do Prof. Silvério Figueiredo e do Prof. Pedro Proença e Cunha, reconhecidos investigadores dos trabalhos de investigação sobre a temática da Palentologia no Cabo Espichel.
À margem da aludida palestra, o jornal “O Sesimbrense” esteve à conversa com Silvério Figueiredo e apresentamos o seguinte excerto sobre as recentes descobertas.

Em 2019 foi descoberto um conjunto de 614 pegadas de dinossáurios nas camadas superiores da Formação Areia do Mastro (129 milhões de anos: Barremiano, Cretácico Inferior). Localizadas entre os sítios da Boca do Chapim e de Areia do Mastro, a norte do Cabo Espichel. As camadas onde se encontram estas pegadas são constituídas por calcário micrítico depositado em contexto intermareal num ambiente lagunar sob clima tropical. As camadas apresentam uma grande bioturbação, essencialmente resultante do intenso pisoteamento produzido pelos dinossáurios que ali passaram. As 614 pegadas são de saurópodes, ornitópodes e terópodes, distribuídas por 3 diferentes camadas. Interpreta-se que as pegadas foram produzidas em vários momentos, pois que os herbívoros usaram esta área costeira como passagem entre as áreas de pastagem, enquanto os carnívoros frequentavam a área para caçar, quer em grupos, quer individualmente.
Em 2021 foram descobertas na mesma formação numerosas pegadas de crocodilomorfos, num leito de calcário margoso, sob uma cama com pegadas de dinossauros. As pegadas são tetradáctilas e pentadáctilas. Ao redor de algumas pegadas é possível identificar o rebordo saliente, provocado pela pressão do peso do animal sobre a lama. Esta unidade foi depositada num ambiente de lagoa de carbonato raso, sob um clima tropical.
Pelo seu elevado número de pegadas, pela descoberta inédita deste tipo de património nesta formação geológica específica e pelos dados científicos que esta descoberta traz, estas pegadas da Formação de Areia do Mastro constituem-se como um importante elemento patrimonial da paleontologia portuguesa e relevante do ponto de vista científico, pois permite um melhor conhecimento das faunas do Cretácico Inferior de Portugal.

Silvério Figueiredo

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Director do jornal O Sesimbrense