O sesimbrense João Dias, formado em Física pela Universidade de Lisboa, onde está a fazer o doutoramento, publicou recentemente um artigo científico que tem tido algum destaque na comunicação social e redes sociais, A investigação foi feita por uma equipa liderada por João Dias. que tem realizado observações da luz infravermelha de Vénus, Marte e Júpiter.
Segundo o Instituto de Astrofísica e Ciências do Espaço, o estudo, publicado na revista Atmosphere, utilizou simulações obtidas com um simulador de espectros planetários, o Planetary Spectrum Generator (PSG), desenvolvido pela Agência Espacial Norte-Americana (NASA), para analisar observações da luz infravermelha dos planetas Vénus, Marte e Júpiter. Usando o PSG, a equipa conseguiu explicar observações de alguns compostos químicos presentes em pequenas quantidades, mas de grande relevância para compreender melhor a química e a dinâmica das atmosferas desses planetas. Os resultados do estudo evidenciam também que este simulador da NASA é uma ferramenta eficaz para a investigação no âmbito das atmosferas planetárias.
“Conhecer a proporção entre duas variantes do hidrogénio, o isótopo deutério e o hidrogénio simples, ajuda-nos a compreender a evolução temporal da água em Marte”, explicou João Dias. “O deutério é um átomo pesado de hidrogénio, o seu núcleo contém mais um neutrão, por isso água, H2O, composta por um átomo de deutério e um de hidrogénio, HDO, é mais pesada e escapará com mais dificuldade para o espaço. A comparação deste rácio a nível global e local em Marte, possível com este estudo, dá-nos informação valiosa sobre a evolução temporal da água marciana.”
“Outro composto incluído nesta investigação, a fosfina, pode ser produzido espontaneamente em ambientes de alta pressão e temperatura na presença de fósforo e hidrogénio, os dois elementos químicos que a constituem. É o que sucede em Júpiter, sendo a fosfina uma das responsáveis pelas coloridas bandas na atmosfera deste gigante gasoso,” esclareceu outro dos membros da equipa, Pedro Machado, “mas num planeta rochoso, como a Terra, onde estas condições extremas não existem, a sua presença está associada à atividade biológica.”
Por essa razão, quando em 2020 um estudo sugeriu a existência de fosfina nas nuvens de Vénus, a comunidade científica virou a atenção para este planeta. “Estudos posteriores realizados noutras condições e noutros comprimentos de onda da luz mostraram que a fosfina pode afinal não estar presente, ou estar em quantidades bem menores do que as inicialmente identificadas. O nosso trabalho mostra que em observações dedicadas no infravermelho, e para as altitudes e condições físicas que têm sido sondadas, não é possível detectar fosfina na atmosfera de Vénus, pelo menos considerando os valores propostos por esse estudo inicial.”
Ainda em Vénus, “o estudo da abundância de dióxido de enxofre a várias altitudes é muito importante para sabermos se existe atividade vulcânica”, acrescentou João Dias. “Determinando com precisão a abundância deste composto a diferentes altitudes, como mostramos ser possível com o simulador PSG, conseguiremos estudar a sua origem.”
Este trabalho é de grande importância para missões espaciais que estão agora a ser desenvolvidas, como a EnVision e a Ariel, ou já em curso, como a Mars Express, todas da Agência Espacial Europeia (ESA), nas quais o IA está envolvido, por indicar os valores esperados para estes componentes químicos, permitindo que os instrumentos que estão a ser desenvolvidos para a EnVision e a Ariel, missões que ainda estão em preparação, possam ser otimizados para detectar estas moléculas nas quantidades expectáveis.