Nadadores-Salvadores

No passado a segurança das praias era assegurada pelos “banheiros”, dos quais alguns desempenharam essa função durante décadas, ficando na memória dos sesimbrenses, como foram os casos dos banheiros Xavier, Serafim, Justino da Silva, Jacinto e José Duarte Horta.
Hoje esta actividade encontra-se regulamentada, obriga a formação prévia e é normalmente desempenhada por jovens que, na sua maioria, acabarão por seguir outras profissões.
Falámos com alguns destes nadadores-salvadores, que foram unânimes em considerar a praia de Sesimbra como muito segura e os seus utentes como bastante educados.

PRAIA DA CALIFÓRNIA

Na praia da Califórnia encontrámos Ricardo Cheis de Sousa, nadador-salvador coordenador com conhecidos apelidos sesimbrenses (é neto de José Cheis e filho de Aurélio de Sousa. Tem uma longa experiência, pois já desempenhou funções em 14 praias, quer marítimas quer fluviais:
“Faço este trabalho desde 2018: eu estava numa formação no âmbito das pescas e houve uma especificidade de formação técnica que é a recuperação de helicóptero, que é dada por um esquadrão muito específico que é o 751. Como tínhamos aulas também a nível da natação disseram-me que eu até era adequado para os Socorros a Náufragos, acharam que tinha alguma identidade, algum perfil, e foi imediato, transitem logo para este ramo.”
Ricardo tem ainda feito outras actividades relacionadas: “Estou ligado à segurança privada. Aqui a vigilância é mais a nível de questões humanas, na segurança privada é mais a nível de bens patrimoniais, mas não deixa de ser uma coisa paralela.”
Embora tendo estado mais tempo na Fonte da Telha, de onde é originária a associação que o enquadra – a ÂNCORA – não tem dúvida que Sesimbra é a praia mais segura de Portugal: “Bem podem pintar de outras cores, isto é uma baía virada a sul, abrigada, a ondulação é praticamente inexistente.”

Noutro posto desta praia estavam as nadadoras-salvadoras Ana e Carolina. Ana Maria Vitorino é de Azeitão e terminou no ano passado a licenciatura em Comunicação Social. É igualmente coordenadora e explica-nos em que consiste o seu trabalho: “Eu, juntamente com o meu colega Ricardo, fazemos a coordenação da praia: escalas, procurar equipas… Nós temos uma base de 20 a 25 nadadores-salvadores, mas há alturas em que é mais difícil arranjar elementos: alguns vão de férias, depois em Setembro têm aulas. São 20 a 25 para a praia da Califórnia, onde devem estar permanentemente 6 mas, muitas vezes, não conseguimos ter esses 6 nadadores-salvadores. A maior parte são estudantes. O nosso horário é das 9 às 19, chegamos sempre um bocadinho mais cedo para montar o posto de praia e durante estas 10 horas estamos sempre aqui no posto”.
Sobre o modo como tem corrido o trabalho, diz-nos: “Varia muito de praia para praia. Este é o meu primeiro ano numa praia mais calma. Aqui em Sesimbra o trabalho consiste mais em prevenção e as ocorrências são mais a nível de areal: indisposições, fraturas… porque esta é uma praia calminha. Também temos casos com picadas de peixe-aranha, sobretudo na vazante mas não é nada assim por aí além…”

Carolina Santos é de Sesimbra (Sampaio), estudante, e está a tirar a licenciatura em Marketing e Publicidade: “É o meu primeiro ano como nadadora-salvadora. Eu já sabia mais ou menos para o que é que vinha, porque frequento muito esta praia, já desde há muito tempo, já sabia que era calminha e as pessoas que frequentam a praia são mais idosos, e famílias e crianças e os problemas que surgem são mais no areal”.
Questionada sobre se não será um trabalho monótono, diz-nos: “Às vezes é um bocadinho, porque não temos assim tanta interacção com os banhistas, mas acaba por se passar bem, principalmente quando estamos num posto de duas pessoas o dia até passa rápido.”

Mais adiante encontramos Francisco Ramião, estudante na escola de Tecnologias do IPS, na licenciatura em Tecnologias do Ambiente e do Mar. Já esteve nesta praia há dois anos, no último posto de Praia da Califórnia e depois esteve na outra ponta da praia, na Praia do Ouro. Considera que “O trabalho nesta praia é relativamente calmo, não se pode é subestimar: é calmo mas de um momento para o outro pode mudar, Em Agosto já tenho tido algumas ocorrências, já tive de sair com o meu colega para ir buscar uma pessoa, e ontem foi uma ‘gaivota’ de recreio que estava a pedir ajuda: há umas quantas ocorrências; há também casos de peixe-aranha”.
A seguir explica-nos qual o procedimento nestas situações: “A pessoa senta-se aqui na nossa cadeira, informo os meus colegas que houve uma picada de peixe-aranha para eles ficarem atentos à minha zona, porque eu tenho que ir lá acima ao bar do concessionário, onde me arranjam um alguidar com água quente, que trago para baixo; como normalmente a picada é no pé, a pessoa mete o pé dentro da água quente, então eu observo a picada para ver se ainda lá está o espinho – o que é raro – depois espremo até sair um pouco de sangue, depois basta ficar na água quente durante uns minutos até a pessoa se sentir bem e desaparecer a dormência, que é provocada pelo veneno, pois a dor é provocada pela espetada”.
Outros casos que tratam são as pranchas de paddle que estão no interior da zona delimitada pelas boias, o que é proibido; as gaivotas de recreio também não podem estar no interior desta zona, apenas boias: “No caso do paddle, a prancha tem uma quilha e já houve casos em que essa quilha acertou em pessoas. Na maré vazia, onde área para nadar é mais curto, já aconteceu estarem uns 20 paddles nessa zona de banhos. Os jogos com bolas não costumam provocar problemas pois o pessoal que joga dá uns toques entre si e acaba por não perturbar ninguém”.

No posto seguinte encontramos Matilde Correia, de Palmela, estudante universitária na licenciatura de Gestão do Desporto, e que vai agora para o 3º ano: “É o primeiro ano em que estou aqui como nadadora-salvadora; também já estive este ano na Fonte da Telha. Aqui temos mais situações em terra, não tanto na água, onde ocorrem mais os casos de picada de peixe-aranha. Na Fonte da Telha havia de tudo, e eram mais casos na água, também por causa da maior ondulação. Sesimbra é uma praia onde vêm mais crianças e idosos, e na Fonte da Telha são mais jovens, pessoas que se arriscam mais a ir para a água. Aqui temos tido também alguns casos na areia: pessoas que se sentem mal”.
Matilde já teve de acudir a um caso de salvamento na água, na Fonte da Telha mas não considerou uma situação assustadora: “Nós estamos preparados para isso. Eu, como faço body-board, já estou um bocado habituada e lá na Costa também dava assim uma mãozinha no Inverno. Mas não é assustador, é um bocado o nosso trabalho, creio que o mais difícil é tentar que a pessoa que está a ser socorrida se acalme, mas tudo depende da pessoa: podemos ter uma pessoa calma, embora isso seja difícil. E mesmo que nós estejamos nervosos mas não podemos deixar transparecer.”

Outro dos nadadores-salvadores da praia da Califórnia é Carlos Tavares, do Barreiro. Este é o seu primeiro ano como nadador-salvador e revela-nos que “Está a correr tudo bem, estou a gostar da experiência e espero voltar no próximo ano. Basicamente chegamos aqui às 9 da manhã, montamos o posto de praia e içamos a bandeira, e estamos aqui até às 19 horas a vigiar a praia, a ver se nenhum banhista se afoga. Ocorrências, o que tem havido mais são as picadas de peixe-aranha e às vezes um cortezinho ou outro que temos de desinfetar e colocar um penso. Faço 20 dias por mês, mais ou menos, mas há pessoas que passam a época toda aqui, e folgam apenas duas ou três vezes por mês.

No último posto da Califórnia encontrámos Pedro Henriques, do Barreiro. Estuda Contabilidade, no ISCAL, em Lisboa: “É o segundo ano que faço este trabalho, e gosto, porque no Verão tento sempre fazer algum dinheiro e aproveitar a praia também, chega a um ponto em que já estamos um bocado fartos mas faz-se bem, passa-se aqui um bom dia. A Fonte da Telha é uma praia mais monótona, aqui há mais movimento, é diferente. Aqui há um movimento diferente, é uma praia mais tranquila, com mais estrangeiros, conhecemos mais pessoas, pessoas de diferentes sítios”.

PRAIA DO OURO

Nesta praia os nadadores-salvadores estão ligados à Associação CaparicaMar, e são todos de nacionalidade brasileira.

Na extremidade poente encontrámos Vinícius Andrade, de Porto Alegre, Rio Grande do Sul, e que cheguei a Portugal no primeiro dia de Abril: “Quando começou a época balnear e a Associação perguntou se eu queria vir para cá e eu aceitei. Aqui o trabalho é sensacional, tem pouca ocorrência, é muito bom, a praia é excelente para trabalhar. Aqui a ocorrência principal é peixe-aranha, depois vem muito o atendimento pré-hospitalar: pessoas que caem nas pedras, esfolão, e depois na água, crianças em boia que o vento leva, e pranchas de paddle, casos em que as pessoas não conseguem voltar”.
Vinícius não acha o trabalho monótono: “Estou habituado, já tinha feito está actividade no Brasil, onde sou guarda-vida. No Brasil a diferença é que tem mais povão, ajuntamentos – é caixa de som, é churrasco na praia, é bebida… Aqui não, aqui o pessoal é mais tranquilo”.

No posto seguinte encontrava-se Wilson, de São Paulo, que ele próprio define como “Uma metropolezinha um pouco grande demais”.
Wilson já tinha estado em Portugal: “Trabalhei no ano passado aqui em Sesimbra também: trabalhei no verão aqui, depois voltei para o Brasil no final de Outubro, para fazer o verão lá, que eu trabalho no corpo de Bombeiros, e voltei para cá no dia 2 de Junho para passar o verão aqui. Nunca me passou pela cabeça vir para Portugal mas apareceu a oportunidade e eu aproveitei“.
A oportunidade de que Wilson fala Surgiu no ano passado, durante a frequência de um curso de salvamento, cujo monitor queria trazer pessoas para Portugal, fazer um intercâmbio: “E eu aceitei e acabei gostando e estou aqui outra vez, mas desta vez eu vou ficar um pouco mais, vim para ficar o inverno também”.
Quanto ao trabalho: “Aqui é completamente diferente do que eu vivia no Brasil, aqui é muito mais tranquilo, as pessoas são muito mais educadas, aparentemente atendem mais a autoridade. Eu estou gostando bastante, só a água é que é muito fria”.

Mais um posto, mais um nadador-salvador: Jackson, do Rio de Janeiro. Já está em Portugal há um ano e seis meses: “Tive a oportunidade de vir para Portugal, conheci o local e gostei, e nessa temporada agora a Associação ofereceu-me a oportunidade de vir e cá estamos. O trabalho aqui é calmo, não há grandes perigos relativos ao mar, as ocorrências são mais escoriações, quedas, trauma… Na água só peixe-aranha. Nestes casos o procedimento inicial é identificar o local onde foi ferido, espremedora verificar se deixou algum pico ali, tirar um pouco da toxina e fazer o tratamento com água quente”.

Finalmente, no posto mais a nascente da Praia do Ouro estava George Silva, do estado do Espírito Santo.
Esclarece que não conhecia Sesimbra: “Foi a Associação que o colocou aqui, e é tudo muito calmo, principalmente o ocorrência é de peixe-aranha mas também também acontecem alguns resgates de pessoas em dificuldade, ainda ontem aconteceu com uma senhora”. George está a gostar da experiência, sobretudo porque “É bastante calmo.”

João Augusto Aldeia

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Director do jornal O Sesimbrense