Carta ao Pai Natal

Querido Pai Natal,

Mais um ano se passou e, como não poderia deixar de ser, aqui estou eu, uma vez mais, a dirigir-te algumas palavras.
Lembro-me de ser muito pequenina e já saber bem o que queria ser – Professora. Sonhava acordada, que é como quem diz, brincava às escolas e os peluches eram os meus alunos! Muitos anos se passaram e muitos sonhos realizei! Por isso, e por tantas outras coisas, estou grata, mas não deixo de ter em mim uma tristeza profunda pelo desencantamento que fui sentindo com o passar dos anos. Este amargo de boca nada tem que ver com a paixão que sinto em sala de aula, pelo fogo que palpita nas mentes cheias de ideias e que incendeio com uma história com seres imaginários que povoam a nossa criatividade. Esta é a magia que, felizmente, ainda tem uma réstia de fulgor nos dias cinzentos de uma Escola que outrora os Pais da Liberdade e da Democracia sonharam.
A Escola que hoje vivenciamos está cheia de burocracia, horários intermináveis, sobrecarga de trabalho para professores e alunos, onde ambos são esmagados pelo tempo que escorre por entre os dedos pelo som da campainha.
Sonho com uma Escola mais justa, mais solidária e mais reconhecia. Sonho com uma Escola onde os seus profissionais são respeitados, ouvidos e valorizados. Sonho com uma Escola onde “abril” se expresse em todas as formas de liberdade.
Todos os anos deposito na humanidade, a esperança e a convicção de que estamos num processo de evolução onde o ser ganha espaço ao ter e onde ser importa mais que parecer.
Contudo, todos os anos renovo, neste pedaço de papel, o mesmo pedido – que pelas minhas contas já soma mais de 20 anos! – liberdade de ação numa escola verdadeiramente democrática.
Como a minha carta já vai longa e sei que tens muitos pedidos para atender, especialmente de crianças, aqui deixo a minha lista, a pedido daquela menina pequenina, que ainda vive dentro de mim, e que teima em acreditar que o mundo é um lugar bom demais para ser desperdiçado com futilidades sem conteúdo ou propósito. Pois bem, aqui vai a minha lista de desejos para 2023:

1 – Que a avaliação docente seja um processo justo, transparente e livre de quotas.
2 – Que se recuperem os anos já trabalhados e que sejam contabilizados para a progressão na carreira, tal como acontece nos Açores e na Madeira.
3 – Que os concursos de colocação docente se mantenham tal como os conhecemos.
4 – Que os horários de trabalho sejam respeitados e os salários atualizados.
5 – Que a Escola seja um lugar de Humanidade, Democracia e Liberdade à autonomia pedagógica.
Por último agradeço a todos os professores e professoras que fizeram de mim o que sou hoje, um ser pensante, reflexivo, curiosos, com opinião e com ideias, e em particular aos que me mostraram um caminho único de expressão pela descoberta da escrita e da leitura.

O capital humano da Escola é um coletivo que assenta a sua prática numa dinâmica particular, com uma linguagem própria e que deve ser reconhecida por todos como pináculo da democraticidade.
A Educação deve ser reconhecida e encarada como um direito fundamental, que dê resposta às desigualdades sociais, que não acentue o fosso das mesmas e promova a igualdade de oportunidades, justiça e equidade.

Carla Carvalho
Pexita e Professora

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Director do jornal O Sesimbrense