Sandra Pita Soares

Casada e mãe de dois filhos, a pintora Sandra Pita Soares (ainda que não sendo esta a sua profissão), afirma que tem tempo para tudo, aproveitando a vida, sorrindo e pintando a cores aquilo que representam as suas emoções.Considera que a pintura é um mundo onde consegue encontrar a perfeição, um mundo de cores retratando a loucura, o amor, a poesia e o desassossego deste grande escritor e poeta Fernando Pessoa. Já desenhou Fernando Pessoa de todas as maneiras, participando em várias exposições, retratando que o mundo de Fernando Pessoa é infinitamente vasto, e os seus heterónimos são a prova da sua continuidade.
Começou a pintar Fernando Pessoa em 2014, realizando várias exposições.
Além da pintura, consegue um equilíbrio com a vida, dedicando-se ao mergulho. Encontrou no Oceano assim como encontrou na pintura a beleza daquilo que é puro e silencioso. A comunicação é perfeita, fluída e colorida. A criatividade é encontrada nestes dois mundos!

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Quais são os seus melhores momentos para pintar?
Não há momentos em particular, apenas sentir aquele momento em que a criatividade surge e colocamos o pincel na tela e tudo se encaixa… ou não… Muitas vezes idealizamos algo, mas não acertamos, ou são as cores, ou é o formato… e volta tudo do início e pegamos numa nova tela… ou não… para um artista, não há o certo ou o errado, olhamos e o nosso olhar diz se gostamos ou não do trabalho. Eu tenho de gostar daquilo que pinto, de outra maneira não faz sentido. Costumo dizer, quando pintamos com amor e com alma, tudo corre bem.

Quando surge a pintura na sua vida e qual é a razão em ter escolhido a pintura abstrata e não outra?
Desde pequenina, ao rabiscar nuns papeis… a vida acabou por me fazer separar da arte, porque diziam que com a arte não se ganhava dinheiro… crescemos em crenças, vivemos e concretizamos essas crenças e lembramo-nos mais tarde que o verdadeiro sabor da vida está em fazer aquilo que nos conduz o coração.
Pinto com paixão e como tal as cores circundam e envolvem cada tela que pinto. Há quem me chame a Sandra Pessoana, porque por trás desse abstracto, está um projecto literário que é a figura do grande escritor e poeta Português, Fernando Pessoa.

Os focos das suas telas têm um denominador comum, o escritor maior Fernando Pessoa, com os seus vários heterónimos, qual é a razão por esta escolha?
Fui conduzida por um amigo, o Mário Pinheiro, que gostava muito das cores das minhas telas e um dia desafiou-me pintar Fernando Pessoa, o que aconteceu, e ficou um trabalho maravilhoso realizado a dois. A partir desse momento, deliciei-me com a escrita deste escritor e revejo-me em alguns dos textos, porque na realidade, e não apercebendo-nos disso, desempenhamos e assumimos vários papeis na vida… no final acabamos por vivenciar e ficar com aquele nos define melhor a nossa identidade, e o nosso ser; talvez até existam vários que nos definem, o importante é sermos genuínos quando vestimos a pele.

Para além de Fernando Pessoa, também criou telas sobre o Friedrich Nietzsche e Júlio Pomar e Mário de Sá Carneiro, identifica-se com estes vultos da filosofia e da pintura?
Gosto muito de Júlio Pomar, para mim uma referência a nível artístico. Mário Sá Carneiro, gosto muito da prosa deste escritor, é intensa e descreve a vida deste escritor, até a sua própria morte. Fernando Pessoa, foi um dos melhores amigos de Mário Sá Carneiro, e fundaram em 1915 a Revista Orpheu. Coloquei numa tela a preto e branco a figura destes dois escritores lado a lado, não me surgiram cores, porque quando os desenhava, pensava na vida solitária que ambos tiveram na vida.

Para além da pintura, também pratica a atividade desportiva de mergulho, que opinião tem sobre o destino Sesimbra, relativamente ao mergulho?
No mergulho, tirei a Certificação de Dive Master, neste momento estou um pouco afastada, porque não me consigo dedicar a tantas coisas que gosto na vida. Tenho experiência de mergulhar em alguns Locais de Portugal, mas nada que se compare ao mar, e à vida que encontramos quando mergulhamos neste mar de Sesimbra. Tem um potencial enorme, com muitas escolas de mergulho, mas podemos sempre fazer melhor. Lanço um desafio, porque não uma colaboração mais próxima e de ajuda da Câmara Municipal de Sesimbra com os variados Centros de Mergulho em Sesimbra. O mergulho é uma prática que também nos traz muitos turistas para esta Vila, como tal com enorme potencial de consumo para o Comércio desta tão magnifica Vila.

Chegou a participar na ação de limpeza subaquática que reuniu cerca de 600 mergulhadores e que foram alcançados dois recordes no Guiness (o maior número de mergulhadores durante 12 horas numa ação de limpeza e a maior exposição subaquática do mundo que reuniu 150 fotografias)? Se sim, que avaliação fez?
Não participei, estas ações são sempre importantes e deviam ser feitas com uma maior regularidade, não para mostrar ao mundo que as fazemos, mas porque o fazemos porque assim deve ser em consciência. As nossas ações como indivíduo/pessoa, não precisam de público para engradecerem o ser humano fantástico que cada um de nós somos. Cada um de nós consegue sempre fazer a diferença para um mundo melhor e mais sustentável.

O mergulho lúdico e a pintura complementam-se na sua vida?
Neste momento diria que a Biodanza e o mar, são grandes potenciadores da minha criatividade. Tudo o que é belo e colorido, acrescenta sempre cor à nossa vida.

A pintura, o que lhe transmite?
Quando mergulhamos na pintura, esquecemos aquilo que somos e transformamo-nos…não pensamos em mais nada, apenas escolher e misturar as cores, sentir cada pincelada que damos em cada uma das telas…umas vezes estamos mais intensos nas nossas emoções, mais apaixonados pela vida e pelos momentos, e as cores quase que transbordam para o exterior… assumem vida, movimento. Risos…

Há vários anos tem marcado presença em várias exposições a nível nacional, porém no ano de 2022, iniciou um périplo de divulgação e de exposição das suas obras por vários países estrangeiros (França, Itália, Dubai), como decorreu e quais foram as opiniões que reteve?
Foi um desafio e agradeço à Ana Maria Fernandes por me ter “descoberto” como artista, e que me tem proporcionado esta viagem pelo mundo.
Opiniões; “As cores, e mais cores, adoramos as cores que a Sandra coloca nas telas, elas definem alegria, paixão, vida, e mergulho pelo nosso mais interior como pessoa. Já conhecemos a pincelada da Sandra, com Pessoa ou sem Pessoa, as telas ficam sempre bem”. Esta é uma das características que as pessoas identificam nas minhas obras. Quem me conhece, diz que as minhas telas, são a projeção da minha pessoa, e assumidamente o são (risos…)

Quantas telas já criou desde o ano 2014?
Não sei quantificar, mas serão mais de uma centena, contando com as telas mais pequenas. Sabia que esta pergunta, me poderia surgir a qualquer momento e ficaria sem resposta, o meu marido insiste no portfolio há muitos anos… e eu relativizo o tema, porque quero é pintar. Mas está em projeto fazer esse levantamento e um site para o ano de 2023.

Que técnicas utiliza na pintura plástica?
Acrílico, óleo, assemblage, pastel seco, guache…
Quando está no seu atelier o que sente quando pinta?
Uma grande confusão, o lugar de um artista, é confuso, telas por todo o lado, paredes sujas de tintas… tentamos sempre ordenar e por tudo no sítio, mas rapidamente se torna tudo novamente numa grande confusão colorida. Este espaço é maravilhoso, porque é só meu… gosto sempre de ouvir uma música, gosto de música comercial e é esta que me acompanha, enquanto pinto.

Pretende dedicar-se a tempo inteiro à pintura?
Se gostaria sim, mas neste momento não consigo. Mas sem tristeza nesta decisão, porque tudo aquilo que faço a nível profissional me dá um grande gozo e o faço com paixão.

Nasceu em Nampula, Moçambique, como surgiu Sesimbra na sua vida?
Sim, sou de terras e sabores africanos. Adoro África, as pessoas, as cores, o cheiro, a comida. Sesimbra chegou à minha vida aos 12 anos em viagens de férias que fazia com os meus pais. Sonhei desde essa altura que “quando fosse grande, era aqui que queria viver” e o sonho concretizou-se. Se te disserem que o teu sonho é impossível, vive o impossível e o sonho concretiza-se.

Como é que a política entrou na sua vida?
A política entrou através das pessoas que representavam esse partido e os projetos que faziam sentido na minha vida e que pudessem trazer algo diferente e melhor na vida das pessoas. A minha passagem, prende-se com participação ativa, e nada tem a ver com projetos de ambição na política. Na política identifico-me com as pessoas e com aquilo que elas são e que podem aportar valor em causas e em pessoas. Na vida fui sempre a favor de causas e projetos.

Comente a frase: “Tudo vale a pena Se a alma não é pequena.”
Essa é a frase correcta de Fernando Pessoa, apesar de se ter tornado frequente usar… quando a alma não é pequena… o propósito é o mesmo.
A nossa identidade permite-nos sermos grandes seres humanos de causas e para causas. Na vida cada ação leva a uma consequência, temos o direito e o dever de a tornar grandiosa e com amor condicional quando a lançamos no Universo. Semeia e vais colher aquilo que deste ao outro… é simples…

Como a vida e obra do mais universal poeta português a influenciou na pintura?
Sem me aperceber, comecei a ter seguidores, comecei a ter compradores para a minha arte. Gosto da inquietude da sua escrita, e isso leva-me a representá-lo de inúmeras maneiras. Acredito que com amor tudo se transforma e tudo se consegue. E assim o é também na Arte…

João Silva

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About the Author

Editor
Director do jornal O Sesimbrense